quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Consumo



Hoje lancei no twitter, com um certo ar de desabafo,a ideia de fazer uma lista de coisas detestáveis.Não disse irritante para não plagiar a Fernanda Young, embora a força vital da ideia seja a mesma.
Comecei falando do quanto me incomoda recolher DIARIAMENTE,panfletos e jornaizinhos com ofertas de supermercados espalhados pela garagem.Faça chuva ou faça sol lá estão eles enroscados no portão, grudados na água que escorreu da planta ou da minha cadelinha, no jardim, na calçada,invadindo a rua.
Depois, já no final da tarde, declarei minha insatisfação com o mercado "fashion" para pessoas que oferecem mais de si para serem amadas, ou que amam com abraços maiores e mais confortáveis, resumindo, gordinhas!
É bastante difícil encontrar peças que sejam confortáveis, adequadas, belas e tenham preço justo.De preferência uma peça com todos os requisitos.Ou tudo é muito caro ou falta bom senso em quem as produz.Posso ser eu mesma?Enfim , fui efetuar uma troca.Dessa ação sobrou-me um pequeno crédito que em face do que a loja dispunha me dava direito a um par de meias.Meia aqui, meia acolá, não tive muita escolha , porque a maior parte delas custavam mais de dez reais.(eita meia cara, não é?).Restou-me escolher entre 3 pares,dentre os quais um par de meias amarelas!!!AMARELAS quase  cor de gema de galinha caipira!
Dei uma gargalhada e me vi obrigada a comentar com a vendedora:
_Será que tem alguém que acorde com  uma súbita e irrefreável vontade e diga:"Ah! Preciso sair , porque tenho que comprar um par de meias amarelas!"
A vendedora me devolveu um sorriso amarelo, para meu alívio, menos amarelo que as meias.
_ Moça, com essa falta de opção me dê essa listradinha mesmo.


PS. Se vc acha que as meias amarelas podem compor o visual com muito charme,( e até acho que podem mesmo dependendo da situação), já adianto : aquelas que me foram oferecidas não poderiam, eram muito feias mesmo!




Encontrei essas dicas.Quem sabe interesse a alguém.


créditos : R7

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Skyline Pigeon

Por essas e outras é que a vida vai se tecendo...
Já contei que no Olavo Fontoura tive espaço para dar vazão à necessidade de expressão.Oras através do esporte, oras através da música, da encenação.(Nunca menosprezem o papel da escola na vida das pessoas!)
Era uma espiral de possibilidades com extensões e densidades diferentes , mas todas igualmente geradoras de chances...

Quando Cristian chegou ficamos felizes.O número de professoras era costumeiramente muito superior ao número de mestres do sexo masculino.
Ouvir explicações  através de uma voz menos aguda e conviver em sala com alguém não suscetível à TPM nos prometia um refresco.Sem perder o foco da matemática e sem deixar de nos conduzir pelos meandros dessa ciência exata, Cristian arejava nossos dias com seu bom humor e seu talento musical.
Naquela escola, em especial na minha turma,ele encontrou terreno fértil para disseminar entusiamo pela música e fazer brotar de alguns o que estava recôndito e de outros o que já aflorava.
Logo destacavam-se os meninos com suas vozes e violões e seus desejos de expressão.Queríamos cantar, dançar, representar,contar piadas, fazer paródias e até compor.

Durante os inúmeros momentos em que os reuníamos com Cristian, cantávamos pérolas do cancioneiro popular , coisas antigas e bem diferentes do que rolava pela rádio. Uirapuru, Casinha Branca, Serafim e seus filhos.Mas não era só, embarcávamos felizes em canções de Gilberto Gil e tivemos momentos apoteóticos com Lindo Balão Azul de Guilherme Arantes e Mais uma de amor (Geme,geme) da Blitz.Sem contar a bela Roda Viva,a emblemática Por que não dizer que não falei da flores (caminhando e cantando...lembra?),a tonitroante Viola enluarada e outras tantas.
Angélica era uma das meninas mais inteligentes da minha sala, estudávamos juntas desde a 2ª série e Cristian costumava chamá-la de "marquesa dos anjos", epíteto que eu achava divino (com perdão do trocadilho).Quanto ao meu nome, sentia um incômodo imenso.Não gostava do som,não gostava da falta de motivo para essa escolha que acabou sendo aleatória, mas que me livrou de nomes piores (desculpem-me as Otacílias e Ondinas e as demais ocorrências onomásticas femininas iniciadas com a letra O) que não seriam nomes, mas acidentes.
Achava meu nome rotundamente sonoro com um abrir de boca solar.
E todos insistiam em dizer : 
"Que nome forte, você tem! , Olga é um nome muito forte, muito bonito!" 
"Ah, tá!" 
Até ter condições de pesquisar sobre sua origem e ler a livro Olga de Fernando Morais e descobrir ginastas olímpicas russas campeãs...ah, tá!
Cristian, talvez por notar minha carência por um epíteto bacana,(ou talvez eu tenha pedido insistentemente ,o que não seria de surpreender) me batizou : Olga, a musa dos sonhos dourados!
Agora sim eu podia flutuar, musa dos sonhos dourados era ainda mais divinal que marquesa dos anjos, mesmo por que , meu epíteto fora inventado pelo professor Cristian, não era cópia de uma francesa de outros tempos.Angélica era provavelmente minha melhor amiga na escola e agora estávamos em pé de igualdade.Agora sim!
O núcleo do grupinho que orbitava em torno de Cristian , quase sem lhe dar espaço para respirar, se fechava com Luiz Rubens e Luís Américo.Eram meninos cheios de talento que tocavam violão com luxuosa felicidade e aproveitavam para exercitar e ampliar seu repertório com o mestre.
Ensaiamos certa vez , eu e Luiz Rubens, uma representação para Casinha Branca que nunca mais saiu de nossas mentes e corações.Cristian e Luís Américo desfilavam as notas que brot
avam delicadas dos violões, parte da turma entoava em coro as palavras que contavam uma pequena história que eu e Luiz tingíamos no palco com gestos e expressões cheias de emoção e intensidade, com figurino e adereços.
Com a chegada do final do ciclo do 1º grau (hoje se chama Fundamental),sabíamos que nosso rumos seriam diferentes,tínhamos escolhas diversas e íamos para escolas públicas distintas.Travamos um pacto , quem ficasse famoso ou se destacasse no cenário musical, chamaria os outros três para cantarmos "Skyline Pigeon".Nunca me esqueci dessa promessa.



Há dois anos, mais ou menos, por intermédio do Orkut,os meninos me localizaram.Luiz Rubens é empresário em São Paulo , continua apaixonado por Raul Seixas e lidera um moto clube chamado Itanguido´s e Luís Américo (Luís Viola) mora em Munique, na Alemanha onde propaga a cultura brasileira, através do samba.Ele também é compositor.http://www.myspace.com/luisdubem.
Infelizmente nunca mais soube nada a respeito da Marquesa dos Anjos, minha amiga Angélica...

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

FOME E PALAVRAS


Fome e palavras
                                  

Eu me alimento de palavras que se alimentam de mim
Vez por outra sofro de uma verborragia incontrolável
E falo pelos cotovelos até ficar velha de tanto falar
Por vezes sofro de febres de silêncio
Quando as palavras passam fome
e desnutridas de mim
são ecos ocos.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

PRIMAVERA


Toca, primavera
O  colorido acorde
Que me liberte da
Sinistra composição
Monocórdia

Toca , primavera
O perfumado acorde
Que me desperte da
Pegajosa sombra
Nauseante

Toca , primavera
O saboroso acorde
Que me complete
Pois dos meus dedos
Vingarão os brotos
Da nova estação 


terça-feira, 21 de setembro de 2010

IDENTIDADE E PERSONALIDADE


Parte do projeto IDENTIDADE E PERSONALIDADE, produzi com os alunos um autorretrato com recortes capazes de revelar um pouco cada um de nós.
Para acompanhar fizemos também um poema.






SOU
Sou um espectro vazante
de uma maré universal
que sobrevoa as intemperanças,
os riscos do papel
os pontos do bordado

Sou um esvoaçante desejo
que não se contém e
muito menos detém
o provisório 
Absorve candidamente
 os gestos fartos de doçura

Sou a espera ansiosa.
O voto de confiança
O deslizar das vozes
A lagoa espelhada
O indecifrável rumo
A montanha segura
O pavio incendiário
A mão estendida
O inevitável
O improvável
Tudo num só segundo.

LIVRO DOS NOMES

Um dia inventei de fazer com meus alunos um tal LIVRO DOS NOMES com o propósito de aproximá-los da linguagem poética.Aproveitei para falarmos de identidade (tema recorrente em minhas propostas, mas sempre abordado em perspectivas e estratégias diversas).
Todas as vezes que peço para produzirem algo dessa natureza,escrevo junto com eles.O "poeminha" abaixo nasceu assim...

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

No SOL DE PRIMAVERA, VOA BICHO

Katia tinha 16 anos, cabelos muito lisos, castanhos e bem longos que balançavam frouxos como aquelas cortinas de tiras de plástico que se usava no batente da porta da cozinha.Além de bailarina, era apaixonada por Beto Guedes.Eu ouvia Beto Guedes no rádio e a canção Sol de Primavera havia sido tema da abertura da novela global das seis Marina(1980), mas tudo o que eu sabia era muito pouco perto do singular domínio de Katia a respeito do Clube da Esquina.Estudávamos juntas na então Escola Estadual de Segundo Grau Alexandre de Gusmão, cursávamos  o magistério e foi essa menina quem me levou ao meu primeiro emprego.
Também a única vez em que puder dormir na casa de uma amiga, foi na casa de Katia.Acho que na época não pude expressar adequadamente minha admiração por essa moça.
Ouvi infinitas vezes uma fita K7 que ela gravou para mim: Amor de índio;Lumiar;O sal da terra;Vevecos, panelas e canelas;Quando te vi;Paisagem da janela...
Depois eu mesma comprei outros discos e ouvia, ouvia, ouvia...
Anos depois, fui parar em Belo Horizonte onde morei por seis anos e em meio a uma manifestação contra qualquer coisa que não me lembro mais (eram tantas!) realizada pelos alunos da UFMG encontrei um certo Marcelo, Celo.
Entre tantas conversas e risadas, Celo Borges que me havia sido apresentado por minha amiga Elaine Duarte, também se tornou meu amigo.Tínhamos muitas afinidades e nos admirávamos mutuamente de modo tranquilo e solto.Na cantina da Letras,na minha casa,nos bares da vida. 
Eu adorava seus relatos familiares, sua experiência musical, sua voz angelical.Meu amigo Celo Borges, neto de seu Salomão e dona Maricota, sobrinho de Lô,sobrinho de Telo Borges.Também com Telo dei boas risadas. 
Procurei entre meus escritos antigos, o poema que fiz para Celo e que lhe entreguei na minha casa certa de que a gente deve declarar as verdades que sente.Eu sentia em Celo a celestial partitura e me sentia feliz de estar de bobeira a seu lado, gordinho sorridente de olhos azuis.Sempre que possível ia ouvi-lo em suas apresentações por aí.Não encontrei o poema, não encontrei as palavras que usei, mas as palavras o encontraram  e seus olhos celestiais sem nuvens que quase choveram.Chegaram mesmo a ficar sujeitos a precipitações no final da tarde.
Ficava tão feliz com os elogios de Bituca...
Depois que parti de BH ainda nos falamos umas duas vezes e depois um silêncio total.Através da internet soube que Celo voou pra não mais voltar ... 

 "Ah, andorinha voou, voou, fez um ninho no meu chapéu

e um buraco bem no meio do céu

e, lá vou eu como um passarinho, sem destino nem sensatez

sem dinheiro nem pro pastel chinês.

Ah, andorinha voou, voou, fez um ninho na minha mão

e um buraco bem no meu coração..."

Não encontrei um vídeo com Celo cantando essa canção que Telo fez ainda menino, mas os tios cantam nesse vídeo e a gente imagina.

 




Mais ...
http://www.museudapessoa.net/clube/exp_hq.htm

leia
http://clubemt.vilabol.uol.com.br/livro.htm

domingo, 12 de setembro de 2010

Torres Gêmeas



Devia ter postado ontem (11/09), mas ainda está em tempo.

Chega mais

Os professores avisaram que ia começar a disputa eleitoral na escola.Os interessados deveriam se reunir e formar uma chapa,escolher um nome para ela,preparar a campanha,dividir as funções e apresentar as propostas para os alunos que escolherão seus representantes.

O Brasil vivia ainda dias de ditadura militar.O presidente da república, João Batista Figueiredo , não fora eleito pelo povo, fora indicado em 1979 para o cargo mais importante do país e seu mandato durou 6 anos.Durante esse período, nosso país viveu a expectativa da redemocratização.
Na Escola Municipal de Primeiro Grau Olavo Fontoura (agora se chama Escola Municipal de Educação Fundamental) a maioria de nós não compreendia o cenário político,pouquíssimos sabíamos da lutas estudantis pela  democracia.De maneira geral, pertencíamos a famílias de trabalhadores humildes focados na sobrevivência, na luta diária pelo pão.
Nem mesmo meu pai, metalúrgico contemporâneo de Lula ,trazia para casa discussões sobre os estragos causados pela ditadura.Hoje eu sei o verdadeiro sentido da palavra alienação.
Voltando para as eleições na escola, recordo nitidamente da nossa agitação.Era , na verdade, uma atividade interessante para sacudir a rotina.Não tínhamos uma consciência real do poder da democracia,creio que era algo muito mais significativo do ponto de vista da criatividade, do marketing, do poder de persuasão.
Uma das vezes em que participei (e provavelmente minha chapa saiu vencedora, mais de um ano seguido), se minha memória não me trai,pouco ou nada  fizemos.

A influência da televisão era grande.Uma das chapas com que eu e meus amigos concorremos chamava-se CHEGA MAIS.Tínhamos onze, doze anos talvez e sacamos o nome da novela das sete que bombava na época.Fizemos cartazes, criamos jingles e agitamos a escola.Tá, mas e daí?? Daí que, como já falei, não sabíamos de verdade o que nos era possível.A direção da escola era rígida e havia a temível Dona Maria que nos fazia tremer com sua presença austera , seus berros estridentes, seu olhar intimidador e a ameaça constante de advertências e suspensões.Poucos ousavam  enfrentá-la.

Salvavam-nos alguns professores de mente aberta que sabiam nos ouvir, nos estimular e que acreditavam em nosso potencial.
Nessa época havia uma série de comemorações cívicas.Todos reunidos no pátio externo, oras no interno que funcionava como refeitório e que possuía um pequeno palco.Durante certo período fui a oradora.Lia o roteiro que me era dado com as apresentações que seriam feitas, lia textos selecionados para o evento e isso me fazia bem.Acabei me transformando em uma figura de destaque entre os alunos das várias turmas desde 5ª até a 8ª série.
Além disso, eu sempre participei de todas as atividades que a escola promovia ou de que participava.Campeonatos de atletismo envolvendo as escolas da rede municipal de ensino,ginástica olímpica, vôlei, concurso de leitura,apresentações musicais, de dança.Tudo, de absolutamente tudo eu participava.
Tínhamos uma professora de arte que já era bem idosa,cheia da manias e cacoetes estava na escola há muitos anos, muitos mesmo, a Dona Julieta.Certa vez ela precisou se afastar,  não me lembro o motivo.Simplesmente ficamos sem aula e depois apareceu uma substituta que não nos agradou.Estávamos incomodados com a falta de comunicação e resolvemos não subir após o recreio até que alguém viesse nos dar explicações.Adivinhem quem foi a agitadora?Pois é.Essa foi minha atitude engajada em favor da voz dos colegas.
Dona Maria já não estava mais na escola, agora era Dona Isilda que havia sido professora de alguns na 1ª série e de Língua Portuguesa de outros .Era uma baixinha brava pra danar, mas ela nos conhecia e gostava de nós, sabia que éramos alunos envolvidos e participativos.Reafirmei nossa recusa de voltar para sala para ter aula com outra professora sem sabermos nada a respeito de Dona Julieta.Dona Isilda precisava colocar ordem, mas deixou claro para nós que considerava legítima nossa queixa.Voltamos para a sala , ouvimos as explicações e aquela substituta não durou.Dona Elisabete, professora de Desenho Geométrico e de quem gostávamos muito assumiu as aulas e tudo voltou a caminhar.
Pena não ter sabido de verdade aproveitar as eleições estudantis da época e ter transformado algumas coisas viáveis para os alunos daquela escola.Ainda estávamos na ditadura e eu não sabia o que era isso exatamente.Pena a ignorância.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

O gato que tudo sabe



Companheira de viagem, a talentosa Marli Rocha (confira um de seus múltiplos talentos : http://marlirocha.multiply.com ) durante o período em que trabalhamos juntas,me deliciava com relatos curiosos que me faziam querer sentar , escrever e escrever...



O gato que tudo sabe
                                   
_Sente-se e fique à vontade.
_Obrigada.
Mas enquanto agradecia nem poderia imaginar que difícil tarefa seria essa. Não naquele dia.
Depois de algum tempo, a gente se acostuma com as frases feitas e elas sopram tão naturais com uma simples fungada no nariz, ou um suspiro casual.
A conversa correu naturalmente naquele dia. Senta. Levanta. Senta de novo. Um pequeno auxílio aqui, uma gargalhada acolá. Domingo transcorrendo como domingo.
Um jornal e uma poltrona depois do café. Ótimo!Mas o que fazer com aqueles olhos?Penetrantes, insistentes olhos felinos. Junto ao pé da poltrona, patas juntas e cauda estanque. Levanta e abaixa o jornal e ele ali.
Ela adora os gatos que faz em tecido, obra de seu artesanato delicado. Adora a plasticidade felina, suas curvas, sua sutileza, mas do bicho propriamente dito não pode dizer o mesmo. Há algo de inquietante e desconfiável nos gatos. Abaixou o jornal novamente. Não conseguia se concentrar, pois sabia que os olhos a perscrutavam. E ali estavam eles, implacáveis e constrangedores. Por que motivo ele se fixava nela daquela maneira? Olhou em volta. Teria se apropriado do espaço do gatinho?Afinal ela era a estranha no pedaço.
Voltou a pousar os olhos nas manchetes, mas ainda sentia-se invadida, desnudada. O incômodo a asfixiava como se alguém tivesse descoberto um segredo recôndito. Resolveu levantar-se e sair de fininho sem chamar a atenção de ninguém, nem mesmo do gato. Virou-lhe as costas, supondo que o bichano se instalaria no calor da poltrona. Seguiu com passos leves para a cozinha. Um copo de água. Um copo de água talvez trouxesse alívio para esses minutos desconfortáveis.
Que estaria pensando esse pequeno ser?O que ele sabia sobre ela?Por que ele a incomodava tanto?Fechou os olhos em intranqüilos segundos, enquanto caminhava e quase suspirou, então notou que o bichano seguia seus passos. O coração afligiu-se e fez força para não demonstrar o incompreensível drama que vivia ali.
Tomou a água e voltou para a poltrona com uma agitação barulhenta que ecoava nos labirintos de seus pensamentos. Por fora, a televisão, cadeiras, samambaias e almofadas pareciam rir daquela ridícula situação, somente as pessoas continuavam alheias.
Foi então que no limite e desejando preservar o que julgava ser sua única propriedade legitimamente privada  apelou:
_Vamos fazer o seguinte?Eu fico aqui, lendo meu jornal e você procura um outro lugar para ficar.Eu não incomodo você e você não me incomoda.Pode ser?
O gatinho já adivinhara esse desejo, mas agora que ouvia em alto e bom português, dobrou-se sobre seu dorso, lambeu umas três vezes a cauda, deu meia volta e concordou.Sem olhar para trás entrou pelo corredor carregando os segredos dela. 







sábado, 4 de setembro de 2010

E a chuva?


O calor era um grande prazer. Não havia ainda preocupação alardeada sobre uso de filtro solar e nem sei se era tão quente assim. Mas hoje...
Não chove em Piracicaba há mais de 45 dias e ainda estamos vivendo o período final do inverno.Para mim o início do inferno.O que dizer do pobre rio que tem a pior vazão dos últimos 4 anos?
Além desse calor insuportável (para mim),temo a abundância das chuvas.Não tardará e virão postagens reclamando do excesso de água, a sensação de estar embolorando...
Encontrei um haicai feito há um tempinho em sala de aula, enquanto meus alunos se aventuravam na produção desse tipo de poema.
Mais abaixo mais uma brincadeirinha com o tema.