quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Crepuscular

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

O peso da beleza

crédito da imagem : Iannis Farjo,um ex-aluno

Estava preparada para uma postagem específica e resolvi mudar de ideia assim de última hora para reforçar a abundância do belo que em mim está em fase de transbordamento.
Não é que seja alguma novidade, mas revisitar determinados assuntos e apontar novas facetas e desdobramentos reanimam,reavivam,reiteram as ondulações que andam serenas.
Em um trecho de uma entrevista dada por Bartolomeu Campos Queirós ele afirma que "a beleza é tudo aquilo que você não dá conta de ver sozinho".
E não é que é?
O que se apresenta como belo diante de nós,nos acende um desejo quase incontrolável de compartilhar.E cada um de nós partilha como pode e com quem a beleza evoca o nome.Interrompemos uma conversa para chamar a atenção do nosso interlocutor para uma criança graciosa,para a meiguice de um animalzinho,para a incidência da luz por sobre uma flor,uma estátua,uma formiga...
Bartolomeu ainda diz que"a beleza não cabe em você!"
E não é que é?
Imaginar o peso da beleza como algo quase insuportável de se sustentar sozinho me fez e me faz escrever,partilhar e passar adiante pelo menos essa ideia.



quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

De volta à escola

Na próxima semana, as aulas recomeçam e eu parto para um novo ciclo na vida profissional.
No ano passado fui para São Paulo e realizei ,de certo modo, um sonho na minha carreira como professora:Trabalhei no Pueri Domus e mais do que isso em Aldeia da Serra.Anos trabalhando em escolas associadas do Pueri me fizeram nutrir o desejo de fazer parte de uma instituição respeitada e respeitável, aberta ao pensar pedagógico.No entanto,embora a experiência tenha sido fascinante e gratificante do ponto de vista profissional,os impedimentos de ordem prática relacionados à moradia e bem-estar familiar me fizeram abrir mão da oportunidade que  me foi dada.Restou uma imensa gratidão e a confirmação de que meu empenho, minha dedicação e minha crença no meu fazer pedagógico semeiam boas sementes nos mais variados solos.
Depois que retornei assumi por um período a vida doméstica, cercada pelos livros,pelos bichos da casa,pelos filmes e pela família querida.Aproveitei cada momento das conquistas dos meus filhos não como expectadora,mas como coadjuvante e isso foi bom, mas como a vida gira com o girar do mundo, cá estou eu prestes a reiniciar apaixonadamente minha trajetória em sala de aula,que é coisa de que gosto com profundo deleite.
Para esta nova etapa, coloco um trecho de uma boa reflexão.


Não nascemos prontos!

 (...) É fundamental não nascermos sabendo e nem prontos; o ser que nasce sabendo não terá novidades, só reiterações. Somos seres de insatisfação e precisamos ter nisso alguma dose de ambição; todavia ambição é diferente de ganância, dado que o ambicioso  quer mais e melhor, enquanto que o ganancioso quer só para si próprio.
Nascer sabendo é uma limitação porque obriga a apenas repetir e, nunca, a criar, inovar, refazer, modificar. Quanto mais se nasce pronto, mais refém do que já se sabe e, portanto, do passado; aprender sempre é o que mais impede que nos tornemos prisioneiros de situações que, por serem inéditas, não saberíamos enfrentar.
Diante dessa realidade, é absurdo acreditar na idéia de que uma pessoa, quanto mais vive, mais velha fica; para que alguém quanto mais vivesse mais velho ficasse, teria de ter nascido pronto e ir se gastando...
Isso não ocorre com gente, e sim com fogão, sapato, geladeira. Gente não nasce pronta e vai se gastando; gente nasce não-pronta, e vai se fazendo. Eu, no ano que estamos, sou minha mais nova edição (revista e,às vezes,um pouco ampliada);o mais velho de mim(se é o tempo a medida) está no meu passado e não no presente.
Demora um pouco para entender tudo isso; aliás, como falou Guimarães, ”Não convém fazer escândalo de começo; só aos poucos é que o escuro é claro”...

Cortella Mario Sergio, Não nascemos prontos - Provocações     
     Filosóficas,7ªEd,Petrópolis,RJ, Editora Vozes,2008,p.12-13

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Hasta la vista

Depois de ter passado uns dias no Rio de Janeiro e na Bahia com Dudu e cia, o rapazinho mexicano achou que não havia tido tempo para se despedir direito e baixou por aqui no sábado de manhã.
Na semana em que ficou por aqui,o rio estava baixo , assim resolvemos levá-lo para ver o esplendor da cheia.O que ele achou?Não faço a menor ideia, pois ele tem um modo muito contido(muito mesmo) de expressar suas emoções e seu encantamento.A única vez em que o vi vibrar com algo foi durante a queima de fogos no Ano Novo.
Em uma de nossas raras conversas, perguntei a ele o motivo de haver escolhido a faculdade de política para cursar e a resposta me agradou.Ele deseja encontrar meios para melhorar a qualidade de vida de seu povo, para que o México encontre uma forma de governo que melhore o acesso do povo à educação e que se possa minimizar a desigualdade social.Bela intenção.
Ele também esteve um pouco tenso pela manhã, procurando algumas informações sobre sua cidade natal, Jalapa.Ficou sabendo por amigos que houve tiroteios perto de sua rua que normalmente é um local pacífico.Depois aquietou-se ao saber que não havia ocorrido nada de mais grave.Toda a confusão teria sido provavelmente um problema com traficantes de droga.Você já ouviu ou viu alguma notícia com o mesmo teor no Brasil?
No domingo cedo saímos de Pira para levá-lo ao aeroporto de Guarulhos depois de 20 dias de Brasil.Não havia tumulto no aeroporto,não choveu e lá seu foi o rapazinho cheio de boa vontade.Tomara mesmo que ele consiga algum dia fazer parte de um movimento que melhore as condições de vida do povo mexicano.





quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

As águas de janeiro


Repete-se o discurso:" Todos os anos é a mesma coisa!"
Não é a mesma coisa, a história não se repete.A cada alagamento,a cada deslizamento, a cada tragédia lê-se uma nova história para uma outra família, para muitas outras famílias.
Pregamos os olhos incrédulos na tela da televisão e o cenário que se vê devastado nos assusta.
Como é possível tamanho estrago?Que força é essa que a água das chuvas possui capaz de arrastar com tamanha brutalidade?
É a força da natureza e contra ela não há argumentos!
Infelizmente o homem  precisa ver para crer e acaba pagando um preço muito alto por sua presunção.Desmata,ocupa áreas de risco, destrói e acumula lixo.
Há , sem dúvida os problemas sociais que agravam essa situação de tratamento inadequado dos recursos naturais.Como evitar?Deveríamos estar tecnicamente preparados para prever tragédias como essa que ocorreu na região serrana do Rio de Janeiro?E as inundações em Franco da Rocha?O que dizer dos alagamentos causados pelo rio Tietê na capital paulista?
As implicações do conjunto destrutivo de ações do ser humano são muitas.A pior de todas dentre elas são as vidas arrastadas pela lama,pelo poder devorador de almas das águas que rasgam a terra.
Por outro lado, comove a  solidariedade do nosso povo, sempre disposto a estender a mão amiga para aqueles que dela carece.Nos próximos dias não será surpresa o alto volume de doações realizadas país afora.Ainda bem!
.Nicolas, um bebê de seis meses,viu o mundo desabar sobre ele lá em Friburgo.Ficou soterrado durante quinze horas junto a seu pai e ao ser resgatado não apresentou um arranhão sequer nem derramou uma única lágrima.Fecho este post com um milagre, torcendo para que outros ocorram.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Bem-vindo, mexicano

Durante a semana que passou, esteve em nossa casa um hóspede mexicano.Ele veio da cidade de Jalapa cuja população apresenta números próximos aos de Piracicaba.
Julián é um rapazinho tímido de 19 anos que estuda política em uma universidade pública da Cidade do México.
Mariana o conhece há muitos anos,mais de cinco posso garantir.Esse contato se deu por intermédio de um jogo online chamado Tíbia que interliga pessoas de todo o mundo.
Dia 28 lá estávamos nós no Aeroporto de Cumbica para receber o mancebo.Curiosa situação, uma vez que nem eu nem Élio fazíamos ideia do que esperar,mas certamente não aguardávamos um loiro de olhos azuis.
De repente,no meio das pessoas que desembarcavam surgiu um jovenzinho de cabelos encaracolados de aproximadamente 1,60m,calça de agasalho azul e papetes com meias.
A comunicação mais eficiente ocorreu em inglês e ocasionais diálogos brevíssimos em portunhol. Acolhemos o rapaz com nossa costumeira atenção.Fizemos o possível para que ele se sentisse em casa e com o passar dos dias sua presença se tornou natural como se ele estivera entre nós.
Viveu conosco o momento histórico da posse de Dilma,conheceu muitos outros amigos da Mariana e do Caio,sofreu com o calor excessivo da cidade,constatou a chuva sem tréguas do final de semana,experimentou novos sabores,confraternizou com os bichos de estimação de nossa casa.Riu e chorou.
No domingo,à noite antes que ele embarcasse rumo ao Rio de Janeiro onde ficará por mais quinze dias na casa de um outro amigo comum,ele nos entregou alguns presentes.Foi uma ação rápida, nada além de cinco minutos antes que seguisse para a rodoviária,de modo que não houve tempo suficiente de perguntar detalhes sobre o significado de cada um.
Seguiu sua jornada nosso hóspede e  ficamos um tanto órfãos em casa.Quando construímos relações afetivas nossos corações caem em um enredamento de posse e cuidados.Sentimos um certo dó de vê-lo ir sem saber se a vida ainda trará nova chance de reencontro.
Oferecemos nossa casa, partilhamos nossa comida e alegrias e foi bom.Mas pelo que pude observar a respeito desse jovem é que ele nunca mais será o mesmo após essa viagem.Embora sejamos todos latinos,o choque de cultura lhe construirá janelas indeléveis na alma.




Esta caixinha é feita de uma madeira perfumada.É fantástico o aroma que ela emana.

sábado, 1 de janeiro de 2011

Ano novo

No espocar dos fogos de artifício
Dança a ânsia nauseante
Espuma a esperança dentro do peito
Sobe até a garganta e
Se expande como bolhas de champanhe


Brindes e votos gastos que se vestem de branco
pulam ondas
comem bagos de uvas


E o amanhã?
Amanhã será ano que vem!
A barriga empurrará mais um dia do calendário
e se transformará num hoje quase sempre igual


ou não!