sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Lições de humildade

      Eu achava muito esquisito o jeito sinuoso com que Renato Russo se movia no palco. Diante dos meus olhos crus era uma caricatura de algum acesso de descontrole muscular.
      Tive que ouvir as sábias palavras de uma amiga diante do meu provável ar de desdém. “É o jeito dele de curtir.”
      Se bem me conheço, devo ter argumentado,questionado.A língua nunca coube na boca e eu não me daria por satisfeita em voltar contrariada para casa.Se isso se aprende ou não; eu não sei, mas isso era tão a cara da minha família,sobretudo de minha mãe.
     O que realmente importa é que a resposta da Elaine ficou cravada em mim. Talvez ela nem se lembre, mas foi uma das maiores lições que recebi acerca de respeitar a diversidade, o outro.Lição que não veio de casa, veio da vida com meus iguais.
   A outra lição veio de um colega do colegial, na época.Magoo,apelidado assim por grossas lentes posteriormente trocadas pelas de contato, não tinha a visão estreita.Eu estudava no Alexandre de Gusmão,no Ipiranga onde funcionava um segmento acadêmico da Escola Técnica Getúlio Vargas, a GV.Magoo era da turma de eletrônica.Havia um rapaz que devia ser de origem bem humilde, trajava-se com extrema simplicidade e exibia uns sapatões que destoavam totalmente da moda new wave.
      Mais uma vez a língua não coube na boca , como se eu não usasse um par de all star verde,(ou seria um chinesinho??)um número maior porque era do meu irmão!!
      “Ai, Magoo,esse cara é muito estranho! Que sapato é esse?? Enfatizei meu incômodo certa manhã.Os sapatos eram feios mesmo,o cara tinha um jeitão estranho, mas o que é que eu tinha a ver com isso?
     A reposta desferida por meu amigo não apresentou alteração enérgica da voz,não soou admoestadora, foi, por assim dizer uma quase constatação benevolente: “Você sabe se ele tem outro para trocar ou se tem dinheiro para comprar outro par?” Engoli em seco. Pior do que os sapatos foi a vergonha que senti.Bem que poderia dormir sem essa...Pensando bem, não.Isso foi necessário para romper os véus de uma arrogância gratuita.
        Durante muito tempo, toda vez que eu lembrava desses dois momentos eu sentia náusea, demorei para me perdoar pela impulsividade, me sentia envergonhada. Eu realmente preciso agradecer meus amigos pelas lições de humildade.

E você?Já passou por alguma situação semelhante?

domingo, 11 de setembro de 2011

10 anos

Demorei para compreender o zumzumzum que circulava entre os alunos.
- O Flávio acabou de ver na Internet que atacaram as Torres Gêmeas.
- Anh?
A primeira vez que as palavras World Trade Center fizeram sentido para mim foi em uma aula de inglês.Devia ser1984 quando a professora Maraiza nos fez pronunciar várias vezes até quase à exaustão a sequência: World Trade Center.A lição do livro In Touch - a beginning american english series falava sobre Nova Iorque e dava destaque às torres que imponentes se destacavam no cenário.
Quando tive a oportunidade de ouvir e ver os noticiários, fiquei tão absolutamente incrédula quanto tantas outras pessoas espalhadas pelo mundo.
Para quem viveu sob as constantes ameaças da guerra fria, o atentado de 11 de setembro pareceu uma sequência de filme bem ao gosto dos prognósticos das películas de décadas antes.Quando o fato passou a ser assimilado como tal,a perplexidade persistiu e persiste até hoje.
A despeito da infinidade de documentários e reportagens sobre o assunto,não consigo captar a verdadeira dimensão do que ocorreu.Não cabe nas minhas contas a proporção de concreto,poeira,ferro e sobretudo de vidas solapadas no evento.
Difícil também compreender o que se passou nesses dez anos.Muitas vidas jovens perdidas em uma guerra mal conduzida; se é que se possa falar que uma guerra conduza a algo que não seja destruição;intolerância,medo,paranoia e tristeza.

Há dez anos fiz os versos abaixo.Ficam os mesmos,por enquanto.





sábado, 10 de setembro de 2011

Meu professor de inglês

O primeiro ano de trabalho em uma nova escola é  muito trabalhoso. Leva-se tempo para adequar materiais à proposta pedagógica e para entrar no ritmo imposto pelo cotidiano escolar.
Em função disso não tem mesmo sobrado tempo para mim e para esse blog de que tanto gosto.
O que isso tem a ver com professor de inglês? Well... voltei à sala de aula como aluna e até mesmo as tarefas que eu deveria cumprir em casa estão meio emboladas.Passo a maior parte do tempo preparando provas, aulas, atividades e corrigindo uma grande quantidade de material.Nos intervalos do dia encaixam-se as obrigações domésticas,maternas e filiais.
Ufa!Sérgio,my teacher,me alfinetou: ...Mas para escrever no Blog você arranja tempo, né?
O pior é que não, professor!Bom que você tenha me lembrado disso, porque em meio a tanta angústia por cumprir tudo com a maior honestidade possível acabei deixando-o de lado.
Esse post ainda seguirá mais um viés relacionado com o professor Sérgio:a indicação (obrigatória) da leitura do livro Of mice and men de John Steinbeck,

Ao ler as dez páginas iniciais,minha memória foi se refrescando e reestruturando o enredo que eu já conhecia.
Sentada no salão de cabeleireiro,sob o ar frio e agradável do ar condicionado, a longa espera foi um presente de sábado.O ruído dos secadores e o falatório acabaram diminuindo e regrediram tanto ao ponto de serem ensacados e absorvidos pelas páginas de papel-jornal da publicação.Embora o vocabulário não fosse completamente dominado por mim, as frases foram deslizando para a construção de imagens muito nítidas na mais particular das telas de cinema.
Resolvi comprar a versão impressa,embora tenha a versão digital.Mesmo conectada às novas tecnologias,sinto uma necessidade(nostalgia?) enorme de manusear os livros, percorrer os olhos pelas linhas,captar a textura do papel,roçá-lo,virar páginas e, quando necessário,umedecer os dedos com saliva como num beijo.
Junto com o livro comprei uma luminária para leitura;eu já havia visto várias,mas não tinha me decidido em adquirir uma.Dessa vez, aproveitei a oferta do site e comprei os dois;livro e luminária.As noites de insônia podem vir que poderei ler sem incomodar o maridão.
O professor Sergio então motivou esse post e pelo que tenho visto,provocará alguns outros.As dicas dele são muito boas, muito boas mesmo!Posso dizer que trazem luz ao contexto.
Por hoje é isso .Leia o livro ou veja o filme,mas não deixe a obra escapar.