sábado, 31 de dezembro de 2011

A cereja do bolo

Existe um ano novo batendo à porta e mesmo que eu desejasse mantê-la fechada seria inútil ,porque o ano entra pelas frestas e inexoravelmente invade.Também eu não tenho motivos para tentar impedi-lo.Essas areias do calendário foram feitas para isso mesmo para nos fazer avançar na arquitetura de novos anseios e esperanças.Oxalá!
Daqui a algumas horas 2012 será o nome do nosso tempo por  366 dias - ano bissexto,lembra?
Meu amigo Bernardo acabou de me ligar do Rio,das areias - não do tempo, mas da bela Leblon - e me fez uma pergunta inquietante:
- Olga,qual nota você dá para 2011?
Pergunta difícil,não é?Nota absolutamente subjetiva e passível de diferentes perspectivas.
- Analisando que faceta?
- Ah! Sei lá...
Antes que eu ouvisse a continuação de seu pensamento,remoí algumas palavras:
- Do ponto de vista profissional talvez fosse mais fácil de dizer...hummm sociológico,político,econômico - ai, meu Brasil da corrupção...hummmm acho que sete.
- Sete?
- Não foi um ano muito legal não,mas  manteve a média dos últimos tempos...sei lá...(Nota-se a clareza para avaliar)Não foi tão ruim, mas foi morno, sem graça,longe de ser muito bom,longe da excelência.
- Éeee...A gente se viu muito pouco.Esses três pontos que faltam devem ser por causa disso.
- Pensando bem deve ser por isso mesmo.- uma gargalhada escapou sem esforço algum,como sempre acontece quando estamos juntos e passamos o tempo rindo do mundo.
- E você? Daria quanto?
- Uns seis.
- Eu fui mais generosa...
-Achei esse ano uma porcaria.
Do lado de cá da linha não poderia haver nada além de outra gargalhada ,porque conheço as peculiaridades desse amigo e também porque ele descreveu alguns fatos e impressões de seu 2011 que talvez merecessem nota abaixo da média.
- E agora? E para o ano que vem?
- Outra história...talvez a mesma... (Nota-se o meu entusiasmo pelo dia de amanhã)Ando meio cansada de enxugar gelo,isso desanima, Bê!
- Eu sei!
E a conversa tomou um rumo sério,depois descambou de novo quando ele contou a história de um amigo argentino que também está no Rio e que estava louco para ver o ritual de homenagens a Iemanjá.Um argentino de calça rosa e camisa estampada. Kitstch.
Eu tinha nas mãos um potinho com algumas cerejas que havia acabado de lavar.Esta conversa teve gosto de cereja e de gargalhadas.
- Aposto que 2012 vai ser melhor.A gente se vê e então você já começa a pontuá-lo a partir do três.Assim vai ficar mais fácil ter um ano com nota melhor.

Já vai, Bernardo,já vai.Ter amigos que nos liguem mesmo enquanto estão no lugar mais bonito do mundo
e nos façam rir já traz a cereja para o bolo. 

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

De mesa em mesa

Fiquei olhando aqueles meninos e meninas fazendo suas provas trimestrais.Meninos e meninas de sempre,em sua maioria tensos,concentrados;ora mordendo a ponta do lápis,ora com os cotovelos apoiados na mesa e a cabeça apoiada na mão.
Intrigaram-me os pés das mesinhas.Acostumada a vê-los paralelos,caminhei pela sala e a fim de alterar meu ponto de vista e confirmar que eles se distinguiam por traçar um ângulo diferente.Na parte mais próxima ao corpo dos meninos a distância entre os pés era um pouco maior e diminuía gradativamente e formavam um"dez para as duas" invertido.
O tampo das mesas também tinha um desenho diferente.Os cantos da frente foram aparados e arredondados e as laterais acompanhavam o movimento dos pés já descritos.Tampo da mesa,assento e encosto das cadeiras azuis,bem como as ponteiras emborrachadas de cada pé da cadeira e da mesa.Todo o restante cinza colorindo as partes de metal.Asim,plástico azul escuro;metal cinza.
Por um segundo desenhou-se diante de mim uma linha do tempo baseada nas carteiras escolares da minha vida.Na 1ª série,sentava-me sempre com algum colega ao lado em carteiras conjugadas de madeira pesada,cujos assentos moviam-se para cima e para baixo para facilitar nosso acesso.Também era possível erguer o tampão da mesa para guardar os livros e ele possuía ainda uma canaleta para os lápis não deslizarem e também um orifício onde, em outros tempos, se encaixavam os vidros de nanquim.
Quando fui transferida para uma escola municipal, as carteiras eram um pouco diferentes.Desta vez eram individuais,ainda assim eram pesadas e possuíam mesa e assento conectados.Lembro-me claramente das etiquetas metálicas com a abreviatura PMSP (Prefeitura Municipal de São Paulo).
Demorei a me acostumar com as tais cadeiras universitárias.Sentia dificuldade para organizar o material e escrever consultando livros era algo bem desajeitado.
Não tardou até as salas de aula receberem mesinhas separadas das cadeiras em material mais leve e recoberto com fórmica clara - cinza ou creme - e estrutura metálica pintada de preto.
Parece-me que a velocidade com que as coisas se transformaram nas últimas três décadas também chegou ao mobiliário escolar.Temo, no entanto, que não tenham chegado , de fato, à própria educação.