terça-feira, 11 de agosto de 2015

Dias e pessoas ensolaradas

Dias e pessoas ensolaradas

        Quando a praia era uma excitação inacessível, íamos ao Estoril, ali no Riacho Grande. Não precisávamos de muito, exceto de uma oferta generosa de sol. Podia ser sábado, mas domingo também estava bem.
      A Variant azul era abastecida e dá-lhe dona Nina na banguela,Via Anchieta abaixo. Algumas sacolas com trocas de roupa, toalhas e uns pacotes de bolacha - porque paulista fala bolacha e não biscoito. Havia garrafa térmica com café? Talvez. Alguma torta? Um bolo?
          Muitas vezes algum tio ou tia; ou ainda os dois ao mesmo tempo, vó inclusive. Bom mesmo era quando o tio Moacir ia junto. Não é engraçado quando seu tio se parece com uma criança feliz? 
         Em tempos quando cinto de segurança era adereço ignorado,o marido da minha tia ia na frente, quebra-vento aberto e bração para fora com panca de playboy. Em meia hora chegávamos àquele mundão de água e era difícil conter a animação.Eu já estava com o maiô por baixo do vestidinho fácil de tirar.Não era complicado achar uma vaga para estacionar e o sol era feliz , nada furioso como hoje.
        Eu gostava mesmo era do Estoril que tinha uma estrutura melhor.Tinha até um parquinho para a gente brincar, mas acho que quando a grana estava muito curta, ficávamos ali, à direita, do outro lado da rodovia porque não se pagava para entrar.
           Que divertido! Meu Deus! Era muito divertido correr e pular naquela prainha da represa.Claro que ir para o Gonzaga ou para São Vicente era muito melhor, porque aí ,sim, era mar de verdade, com ondas e sal, mas estar ali entre aguapés e aquela beirinha lamacenta já era especial.
            E tinha o tio Moacir que nunca deixava nada tedioso. Eu não entendia como a tia Fátima brigava tanto com ele. E nem podia. Inocência de criança faz questão de ver o lado iluminado dos seres, nunca as sombras.Sombra é mesmo coisa de adulto, de responsabilidade. Ele se divertia me vendo sambar,gostava das minhas espertezas de menina, era meu companheiro nas mariscadas que minha mãe fazia ou nas paneladas de siri trazidos na fieira e que tinham o melhor sabor do mundo. Não me lembro de mais ninguém se divertindo tanto comigo diante de um bom prato. É! Tio Moacir era um enorme dia ensolarado.