sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Apolo



       As oliveiras iam ficando para trás, se avolumando em ondas verdes, enquanto a velocidade o levava mais longe e para o alto.Era possível enxergar uma camada azul contornando a costa. Era o mar dos heróis gregos, embaçado pela distância e pela nebulosidade natural do momento. Um mar depois do outro, o outro verde denso,maciço,soberano,espalhando-se com  vigor como um artifício de Deméter.
Não tardou e toda aquela visão foi sobrepujada pela intensidade de estar no umbigo do mundo, Delfos.
O pai de Apolo, Zeus,lhe ordenara que fosse a um lugar elevado próximo ao Monte Parnaso a fim de erguer um santuário e Delfos era esse lugar. Cercado por vales férteis e por uma energia natural intensa,não haveria escolha melhor. Ali,homens poderiam encontrar-se com os deuses.
Apolo ajeitou-se em seu coche de ouro,ajeitou sua aljava com flechas de ouro e afagou seus esplêndidos cavalos alados,então partiu.Sabia que deveria atender a solicitação de seu pai;primeiro porque refutar um pedido dele não era viável,depois porque dentro de si trazia da parte de sua mãe, Leto, o dom da profecia.Sabia também que em Delfos teria um desafio. Deste modo , partiu iluminando os céus.
Assim que chegou, o deus-luz avistou entre alguns pinheiros, a odiosa serpente Python que tudo enegrecia.Tudo o que ela podia fazer para manter a ignorância, para afastar qualquer um da iluminação, da sabedoria, ela fazia lançando seu temível e potente veneno. Apolo investiu contra a serpente que se esquivou com facilidade, golpeando-o nas pernas e já erguendo-se na sombra. Foram quatro dias de intensa batalha. Por fim, as flechas magníficas e infalíveis, feitas por Héfestos especificamente para atingir os que desprezam a busca da luz derrotaram o instinto cego em estado bruto disseminado por Python.
Encerrada a batalha, Apolo enterrou a serpente e sobre ela cravou uma imensa pedra em formato cônico, ergueu os olhos e se deu por satisfeito.Realizou a vontade de seu pai e confirmou que Delfos seria dali por diante o centro da luz para os humanos que desejassem encontrar-se, iluminar-se e enterrar cada um sua própria Python.
Os pés de Antonio percorreram todos os espaços  do santuário erigido a Apolo, a cabeça sacudia-se entre sensações e estremecimentos diante das fabulosas ruínas.Não havia mais a pitonisa para proferir os oráculos aos que buscassem resolver seus conflitos existenciais.Também não havia os vapores que outrora emanavam das rochas e os enigmas não surgiam em complexos jogos de  palavras.
O coração inundado de beleza , transbordou em lágrimas quase sufocantes.Com os olhos voltados para o azul, procurou respirar com  calma  absorvendo o momento, apesar da dificuldade . Sentiu fisgar-lhe a face um raio de sol agudo e enxugou as bochechas lavadas.
Teve a impressão de enxergar asas fugidias nas nuvens que escorregavam suaves, abaixou os olhos e sob seus pés uma sombra serpenteava para dentro de uma fenda na rocha.Achou mesmo que Apolo passara por ali.


crédito da imagem http://www.elfwood.com/~vasilis

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