quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Fernandinha no dentista




Fernandinha carregava o típico sotaque português quando adentrou o consultório do dentista. Sentia-se apreensiva porque não lhe agradava a anestesia. Seria necessária?
-Bom dia!
-Bom dia, doutore!
Viu o doutor abrir e fechar gavetinhas, via-o lavar as mãos, colocar novas luvas. Olhou à volta e conferiu o espaço.
A cadeira começou a se inclinar e as mãos da Fernandinha suavam. Quis entabular conversa para estimular a simpatia do dentista:
- Vai ter pica hoje?
- Como ?
Numa fração de segundo o dentista percebeu a situação:
- Diz-se assim em Portugal?
- Sim!
- Pois então não diga!
Só depois, conversando com as amigas do escritório, Fernandinha descobriu o que tinha proposto ao médico. 

terça-feira, 11 de agosto de 2015

Dias e pessoas ensolaradas

Dias e pessoas ensolaradas

        Quando a praia era uma excitação inacessível, íamos ao Estoril, ali no Riacho Grande. Não precisávamos de muito, exceto de uma oferta generosa de sol. Podia ser sábado, mas domingo também estava bem.
      A Variant azul era abastecida e dá-lhe dona Nina na banguela,Via Anchieta abaixo. Algumas sacolas com trocas de roupa, toalhas e uns pacotes de bolacha - porque paulista fala bolacha e não biscoito. Havia garrafa térmica com café? Talvez. Alguma torta? Um bolo?
          Muitas vezes algum tio ou tia; ou ainda os dois ao mesmo tempo, vó inclusive. Bom mesmo era quando o tio Moacir ia junto. Não é engraçado quando seu tio se parece com uma criança feliz? 
         Em tempos quando cinto de segurança era adereço ignorado,o marido da minha tia ia na frente, quebra-vento aberto e bração para fora com panca de playboy. Em meia hora chegávamos àquele mundão de água e era difícil conter a animação.Eu já estava com o maiô por baixo do vestidinho fácil de tirar.Não era complicado achar uma vaga para estacionar e o sol era feliz , nada furioso como hoje.
        Eu gostava mesmo era do Estoril que tinha uma estrutura melhor.Tinha até um parquinho para a gente brincar, mas acho que quando a grana estava muito curta, ficávamos ali, à direita, do outro lado da rodovia porque não se pagava para entrar.
           Que divertido! Meu Deus! Era muito divertido correr e pular naquela prainha da represa.Claro que ir para o Gonzaga ou para São Vicente era muito melhor, porque aí ,sim, era mar de verdade, com ondas e sal, mas estar ali entre aguapés e aquela beirinha lamacenta já era especial.
            E tinha o tio Moacir que nunca deixava nada tedioso. Eu não entendia como a tia Fátima brigava tanto com ele. E nem podia. Inocência de criança faz questão de ver o lado iluminado dos seres, nunca as sombras.Sombra é mesmo coisa de adulto, de responsabilidade. Ele se divertia me vendo sambar,gostava das minhas espertezas de menina, era meu companheiro nas mariscadas que minha mãe fazia ou nas paneladas de siri trazidos na fieira e que tinham o melhor sabor do mundo. Não me lembro de mais ninguém se divertindo tanto comigo diante de um bom prato. É! Tio Moacir era um enorme dia ensolarado. 

quarta-feira, 13 de maio de 2015




(Re)conhecer



    Hoje cedo, alguns alunos me perguntaram se no meu blog havia dicas de leitura. Eu lhes expliquei que a finalidade desse blog não era pedagógica, mas pessoal. Mas, cá entre nós, falar das coisas que li e gostei,ou das que acho bom poder compartilhar com meus alunos-amigos, não é pessoal?
   Estive pensando que poderia começar pelo começo : atirei-me com gosto no universo da leitura quando há muitos e muitos anos, li em um volume mal conservado da  Enciclopédia Trópico de uma amiga de adolescência sobre o pomo da discórdia. Pronto! Se eu já me sentia atraída pelos livros, caí de vez no vórtex.
  Desse modo, meus queridos companheiros de viagem, vou apontar algumas leituras dentre as muitas possíveis. Alguns desses exemplares não são meus, mas do meu filho que adotou a mesma paixão pela Mitologia.
    E digo mais : quando há um bom tempo atrás fui fazer um curso de atualização em civilizações clássica na própria Grécia com algumas das maiores autoridades no assunto, o professor Jacyntho Lins Brandão nos disse , de maneira sábia, que ali iríamos reconhecer a Grécia, porque ,de alguma forma já a conhecíamos, portanto, espero que , se desejarem, também a conheçam e encontrem grandes momentos de prazer com a leitura.





segunda-feira, 6 de abril de 2015

O cisne branco

Sentados à mesa próxima da porta de saída - ou entrada dependendo da perspectiva -, mastigávamos quase mecanicamente, quase insipidamente ainda que a comida estivesse muito boa. Era só o que fazíamos, saciávamos a fome do estômago, mas eu tinha uma fome ainda maior que a africana. Eu sentia fome de gente, de histórias,de luzes e sombras que toda fotografia permite retratar.
Mastigávamos e com o canto do olho vi a bengala se ajeitar e apoiar as pernas frágeis dos cabelos brancos ali ao lado. Levantou-se e cruzou dois metros até alcançar o caixa livre. Deteve-se interrogando alguém, um garoto com fones de ouvido.
- Você gosta de música?
- Como ?
- Conhece a canção:Qual cisne branco em noite de lua...? - cantarolou com a voz gasta pelas décadas.
A resposta negativa não surpreendeu o senhor. O pai do garoto se aproximou, repousou os braços sobre os ombros do menino e respeitosamente ouviu a mesma pergunta:
- Ele não conhece. E você? Qual cisne branco em noite de lua...
Não fiquei olhando para não ser invasiva e comentei em voz baixinha acessando meu companheiro ao lado , alheio a tudo.
- Hã?
- Eu conheço o Cisne Branco. Expliquei-lhe o contexto.
-Ah!
Aquela fome que não tinha sido saciada, se intensificou e, como quem cruza os dedos e torce para ser notada, pensei firme, pensei forte.Eu quero conversar com o senhor.Eu quero saber quem é e por que insiste em indagar sobre a música. Eu queria conversa com o avô que a vida me negara.Eu queria sugar da seiva da velhice sábia e paciente para a qual quase nunca temos paciência.
A senhora dele também se pusera em pé e seguira para mesinha de café atrás de um chazinho digestivo.Cruzou com pessoas conhecidas, trocaram cumprimentos e gentilezas e novamente sobreveio a pergunta sob a aba da boina.
- Você conhece...? - cantarolou novamente , mas as vozes se sobrepuseram nas intermináveis misturas de nomes de amigos e parentes a quem se emitem cumprimentos e lembranças remotas. Cessou-se a tagarelice.
Talvez de tanto desejar com o coração límpido, o senhor parou a meu lado, num gesto de despedida, findo o almoço dominical.
Antes que descesse o degrau e se atirasse vida afora, mais uma vez ateve-se à pergunta:
-Você conhece...-acompanhei os versos - Qual cisne branco em noite de lua, vai deslizando num lago azul...
- Sim , é o hino da marinha!
O rosto do avozinho se iluminou e ali, naquele encontro fortuito, entabulamos uma breve conversa. Era impecável a linguagem. Seu Cláudio, 86 anos e dona Helga. Juntos caminhamos nas ruas mortas do domingo até onde nossos carros estavam estacionados. Era uma solidão tão grande, mas nenhum traço de infeliz destino. Simples aquisição de tempo. Simples prosseguir de história. Se há mágoas,perversas decisões,tristeza e abandono, não vi. Ouvi histórias, ouvi traços de uma história. Apertei as mãos envelhecidas. O sorriso gentil que me foi lançado ao final das contas foi terno,manso, suave, como s quem já percorreu um longo caminho, sabe soprar para quem vem chegando. Entraram no carro e saíram deslizando num lago sereno de horas azuis...

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Os filhos do Cigano




    Acabei de receber um telefonema de São Paulo.Era meu irmão, um dos gêmeos, a quem chamo e sempre chamei carinhosamente de Boro - não me perguntem o significado disso - Boro de Borino. O outro gêmeo , para criarmos uma distinção, era o Boro de Borão. Acho que foi o Vandir mesmo quem criou esses epítetos. Coisa de menino cheio de invenções para com a irmã mais nova, dez anos mais nova.
    Faz dias que a televisão vem apresentando um comercial da Natura sobre uma garotinha que indaga sobre haver meia-irmã, meio primo, meia-tia e conclui que é irmã e pronto! 
Eu nunca me senti metade de nada e meus irmãos nunca usaram o termo meia-irmã, aliás, não me lembro de ter ouvido ninguém na família nos rotular assim, O fato é que crescemos e seguimos rumos distintos , e quando falo em rumos, falo de distância física mesmo. Acentuada , obviamente, pelos rumos de nossas escolhas, nossas novas famílias.
    Eu dizia que meu Boro de Borino me ligou.A voz um tanto embargada já me adiantando que não me trazia notícias ruins, mas algo surpreendente. 
  Para se compreender tal surpresa, preciso falar sobre algumas pontas soltas na história de nossas vidas, no caso, na vida deles  - porque as pontas soltas na história da minha vida são outras.
   Meus três irmãos mais velhos são filhos do primeiro casamento da minha mãe. Hoje sei que não se tratava de um casamento no sentido exato da palavra. Descobrimos isso muito mais tarde, porque não era assunto de criança e, sobretudo, pesava moralmente. Enfim! Moça de 17 anos, voluntariosa e bonita , nossa mãe - até então, mãe deles - vivia com esse oficial da polícia rodoviária, um homem cujo apelido era Cigano. Pelo que conheço dos relatos de avó e tios, um homem de gênio impulsivo , mas belo.Minha avó repetia à exaustão a história do dia em que ele levou um coice de um cavalo no quartel e o matou com um soco na testa. - cavalos têm testa? O fato é que esse homem já possuía uma esposa, uma família com filhos. Deles nada soubemos nunca.
    Os meninos eram bem pequenos quando em perseguição a um bandido na Via Anchieta, já bem próximo à descida da Serra do Mar, Cigano sofreu um acidente.Conta-se que havia tambores com fogo para iluminar o local, o fusca em que se encontrava o oficial - seria mesmo um oficial ou me trai a memória? - bateu contra um desses tambores e o carro se incendiou. Com o corpo robusto, não conseguiu  passar pela janela da porta que estava emperrada e a tragédia foi inevitável.
    Foi sepultado com honras militares e se tornou um eterno herói na mente e no coração desses meninos.
No sepultamento , provavelmente , se comentou muito sobre a viúva que se vestiu de vermelho. Essa era a minha mãe, que chocava o povo da Vila Carioca.
   O telefonema? Ah, sim! Meu irmão quis compartilhar a amarração daquelas pontas de que já falei. Era para me dizer que esses irmãos , filhos da viúva oficial, passaram 50 anos procurando os irmãos e , apenas agora,  conseguiram entrar em contato com eles. A coisa toda foi agora há pouco, pouco antes de eu receber o telefonema. Fiquei feliz por eles, Fiquei mesmo! Senti a força do sangue do Cigano aproximando os filhos inocentes, Belo, belíssimo. Meio-irmãos?? Irmãos. Até eu que não tenho o sangue do Cigano fui incluída. Querem reunir os irmãos. Irmãos. Eu sinto que aquela lacuna imensa que povoou o imaginário dos meus boros começará a ser habitada por novas histórias, novas imagens velhas a que eles nunca tiveram acesso. Era apenas uma antiga e carcomida foto a referência paterna. Virão outras e os filhos do Cigano o trarão de volta à vida entre tantas recordações.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Contos de amor

Eu gostaria de partilhar com vocês, leitores, os textos de alguns de meus alunos. Trata-se de uma dessas produções de texto corriqueiras que, na escola, se tornam material para treino da escrita e, muitas vezes, para avaliação. 
Sempre que vamos escrever, procuro, sobretudo, sensibilizá-los para trazer à tona "o reino das palavras" , onde, sob conselhos de Carlos Drummond de Andrade, devemos penetrar surdamente.
Alguns desses jovenzinhos de 13, 14 anos fazem isso com maestria, sem se perder no labirinto das regras , da coerência e da coesão. Divirtam-se, saboreiem como eu fiz.

Contos de amor, segundo proposta do livro Para Viver Juntos da SM edições.



Maia e Kishan, um amor proibido

Betina Armelin Dal Porto

    O jovem só sabia chorar, mas não era de se esperar algo diferente de um Intocável, vida mais sofrida que a deles não havia.
    Kishan teve de deixar a escola dos intocáveis aos onze anos para ajudar a pagar as despesas. Ele e o irmão gêmeo idêntico, Baldev, perderam o pai muito novos e como a situação monetária não ajudava, a contribuição deles era necessária.
    Com o tempo Baldev foi despertando interesse na fácil vida da casta dos Brâmanes e começou a levar seu irmão em todas as folgas para observá-los. Kishan sempre se focava em uma esbelta jovem pouco mais velha que ele.
    Certa vez, acabou chegando perto demais dela, a ponto da moça notar. Ela veio até ele e começaram a conversar e se interessaram muito um no outro. Assim, sempre que os irmãos visitavam os Brâmanes, Kishan corria ao encontro da jovem mais deslumbrante que conhecera. Antes que se dessem conta, os dois estavam apaixonados. Para ambos isso nunca havia acontecido, começaram a intuitivamente demonstrar uma determinada felicidade anormal.
    Um dia, Maia, a amada de Kishan, descobriu que ele era Intocável. Preocupou-se inicialmente, sempre ouviu falar deles como inferiores, mas acabou decidindo que seu amor por Kishan era maior que isso.
    Sabendo que quando os pais de Maia descobrissem seus encontros com Kishan proibiriam-nos de ficar juntos começaram a se ver escondidos.
   Os sentimentos da garota intensificaram ainda mais, cantarolava pela mansão e tornava-se cada dia mais alegre. Os pais, estranhando, começaram a prestar atenção no dia-a-dia de Maia.
    Quando Kishan e Baldev chegaram no casarão, os pais da menina flagraram o amor proibido dos jovens e prenderam Maia em um porão dizendo que encontrariam alguém para ela e no dia do casamento ela descobriria quem seria e sairia do porão.
   Sabendo que, como de costume, no dia seguinte, antes do almoço seu amado viria, começou a escrever uma carta explicando o que acontecera. Mas como esta carta chegaria às mãos da jovem?
    Quando uma das trabalhadoras chegou ao porão com o café da manhã de Maia, após a refeição a garota colocou na bandeja a carta para Kishan e pediu que a empregada a entregasse ao belo rapaz moreno de olhos azuis que logo chegaria.
    No momento da folga de Baldev e Kishan, foram, os dois, ver os Brâmanes. Baldev recebeu a carta da trabalhadora, por engano, que era para Kishan. Logo leu-a, descobriu o amor secreto do seu irmão e sentiu inveja de Kishan, porque este conquistou uma moça de tamanha beleza. Contudo, vendo tamanho problema que o casal enfrentava, resolveu não se meter e entregar a carta ao irmão. Kishan contou sobre seu amor para Baldev e perguntou se o ajudaria a cavar um túnel do jardim até uma janela do porão, segundo as informações de Maia na carta. Baldev concordou em ajudar, porém disse que considerava melhor realizar este feito durante a madrugada, visto que todos estariam dormindo e seria difícil alguém os flagrar.
    Por volta de meia-noite, os gêmeos seguiram em direção aos imensos casarões dos Brâmanes, chegaram à moradia de Maia e começaram a cavar o buraco que levaria à janela do porão. O amor de Kishan por ela era enorme, de tal forma que cavava intensamente para poder vê-la logo, por isso, a passagem ficou pronta em um tempo inesperadamente curto.
    Kishan acordou Maia e os dois lascaram um beijo intenso e genuíno além de prometerem nunca deixarem um ao outro. Kishan voltou a ver Maia em todos os momentos possíveis e o amor deles aparentava mais forte do que nunca. A única coisa que os preocupava era que alguém os flagrasse novamente.


   Certa noite, quando Kishan adormeceu Baldev vestiu as roupas do irmão gêmeo e foi até a residência de Maia, e fingindo ser Kishan sugeriu que fugissem da Índia antes que fossem flagrados e separados novamente. A jovem concordou, logo o traidor, Baldev, fugiu com o amor de seu irmão e nunca mais obtiveram alguma notícia dele ou de Maia.




Miguel e Raphaela
 Giovana Banov
   

   Raphaela completou 17 anos, mas não era simplesmente uma adolescente de 17 anos comum, Raphaela era uma princesa, que se preparava para assumir o trono, pois seu pai, rei Baldoc, adoeceu.
   Faltavam onze dias para a coroação da jovem. Para ela, ser rainha não significava nada, então, o rei decretou que sua filha só subiria ao trono ao lado de um marido.
   A ordem do pai a magoou profundamente. Raphaela não era como as outras meninas, ela não queria um noivo escolhido pelo pai por ser rico. Queria se apaixonar.
   Todas as tardes a menina saía escondida para ir à feira, onde passava a maior parte do dia. Mas naquela tarde, como estava confusa e indecisa, Raphaela foi ao bosque passear.         Após horas andando, a moça se sentou ao pé de uma macieira e com o tempo a bela adormeceu.
    Acordou de repente com uma maçã batendo em sua cabeça. Porém, não caiu naturalmente, foi jogada.
   Raphaela olhou para cima, e no topo da árvore havia um garoto que gritou para ela que já era tarde. Na hora encheu-se de raiva, mas após encará-lo por alguns instantes, se acalmou, sentiu algo diferente em seu coração.
   Após olhar seus olhos, o rapaz, Miguel também parou. Nunca viu uma moça tão bonita em toda sua vida. Os dois se desculparam e a partir dali, puseram-se a conversar sobre tudo.
   Como Raphaela, Miguel apareceu no lugar por acaso.  A menina, por mais que soubesse que ele era um estranho e plebeu, contou que era a princesa, já que de alguma forma, confiava nele.
   Quando voltaram para casa, Raphaela ao castelo e Miguel ao seu chalé, começaram a se sentir estranhos, como se algo faltasse, e só pensavam um no outro.
   Passaram-se várias semanas e descobriram que o nome daquilo era amor. Se encontravam todos os dias, e Raphaela, enquanto estava com ele se sentia a pessoa mais feliz do mundo. Porém ao voltar para casa, só sabia chorar para o pai que queria se casar com Miguel.
   O rei não poderia arcar com a responsabilidade, porém aceitou, com a condição de que Miguel teria de competir e ganhar dos outros pretendentes. Assim, Raphaela contou a notícia ao amado, que se pôs a trinar frequentemente.
   Passaram-se dois meses e chegou o dia da luta. Miguel não imaginou que fosse tão difícil: os cinco oponentes iriam que competir entre si com flechas para atravessar o campo, e pegar a caixa de ouro. Quem pegasse a caixinha primeiro, ganharia a mão da princesa e a posse do reino.
   A luta iniciou. Miguel ficou parado, não sabia usar o arco. Viu os príncipes em sua frente serem atingidos e pôs-se a correr. Conseguiu ultrapassar três, porém ao empatar com o quarto, já na metade do campo, Miguel foi atingido.

Mozani







                       A ventania começou depois das nove da noite.Rodopiou, tagarelou, fez sua arruaça.  Som de portas batendo e trovões. Trombetas e tubas. Acho mesmo é que estão avisando que deixou essa terra magra um amigo. Estão avisando que Mozani, o gato querido da família Leite, pede passagem. Lá vai ele, Lá vai ele...