quarta-feira, 28 de julho de 2010

SHANGRI-LÁ

                                      
  Aqui na minha rua não é tão comum a passagem de vendedores com seu carros equipados com som para anunciar seus produtos.
Vez ou outra passa alguém vendendo pamonhas,as famosas de Piracicaba conhecidas por todos os cantos através do pregão " Pamonhas, pamonhas, pamonhas...pamonhas de Piracicaba.É o puro creme do milho..." raramente passa também alguém consertando panelas.
Na rua da minha infância e adolescência, compravam-se muitas coisas na porta de casa.- Eu já contei que foi assim que minha mãe me comprou minha enciclopédia.
Naquele tempo, comprava-se sardinha fresca, pescadinha de um homem que passava de carroça .Nem se embrulhava nada, bastava levar sua própria bacia.O vendedor orgulhava-se em dizer que "os peixe" tinham chegado ainda há pouquinho da praia.Não era difícil de acreditar.De casa até Santos chegava-se em uma hora de viagem,morávamos ali pertinho da Via Anchieta, a caminho do mar.
Os produtos que podiam ser comprados na porta de casa iam desde sardinhas,ovos,verduras, sorvetes até roupas de cama vendidas pelo Sérgio que convencia as donas de casa a adquirirem lençóis, toalhas de banho, mantas, cobertores a prestações que eram registradas em fichas pautadas.Anotavam-se os valores das compras, os valores pagos e as datas.Não havia nenhum documento para selar o compromisso e eu nunca soube de qualquer problema entre as partes da negociação.Acho que foram mais de trinta anos de negócios,até Sérgio abandonar esse tipo de comércio, rico pelo que se sabe.
Voltando a Piracicaba, ainda há pouco passou um vendedor de churros, aliás um produto de qualidade questionável.Resolvi procurar na internet uma receita que me empolgasse a ponto de colocar a mão na massa.Passei por alguns blogs e dei muitas risadas com algumas experiências culinárias, um dos posts falava da compra na Espanha de uma máquina doméstica.
Imediatamente senti o doce e autêntico sabor dessa iguaria com que me deliciava no parque de diversões Shangrilá.
Havia um terreno imenso onde hoje estão instalados um supermercado e um banco na avenida do Cursino.Minha mãe era bastante animada e atendia aos meus apelos infantis.Quase sempre, no período do ano em que o  parque estava instalado, esperávamos acabar mais um programa dos Trapalhões  e antes mesmo de começar o Fantástico íamos nós.
Eu amava com todas as forças aquele território mágico de diversão.Na época  não fazia ideia do que era Shangri-lá, mas definitivamente o Parque Shangri-lá era o meu "shangri-lá".Dentre as atrações que mais me encantavam os churros do espanhol eram parte do paraíso.Nada a ver com os doces carnavalescos e recheios coloridos que se veem hoje.Era uma espiral frita e açucarada que terminava sendo cortada com uma tesoura .Impossível comer um só.Eu, meu pai e minha mãe encerrávamos muitos domingos comendo churros e batendo papo com o espanhol e sua esposa.Tudo era doce e feliz nas voltas que o mundo dava.


2 comentários:

  1. Que lindo, não precisa nem falar né, você é a pessoa que escreve daquele jeito que dá nostalgia, emociona, meus parabéns olga, você ja sabe de tudo isso né... Beijo grande

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