sábado, 16 de outubro de 2010

Marinha em Beagá

Em 1994 recebi a notícia de que teria que mudar.No máximo em dois meses meu endereço seria outro.Mas qual?
Como em um susto em que a gente absorve mais ar do que consegue receber,senti um certo atordoamento e me engasguei com a novidade.Eu estava satisfeita com o curso na faculdade, tinha reconhecimento no meu trabalho e agora?
Agora eu não tinha escolha.Em poucos dias já estava embarcando em um ônibus com a Mariana para uma viagem de nove horas rumo a Belo Horizonte.
Eu jamais havia ido a esta cidade e a única coisa que eu sabia é que devia pegar um táxi e me hospedar no Hotel Contorno.No dia seguinte Élio estaria chegando do norte de Minas e então eu teria chance de ver a cidade onde habitaria nos próximos...meses? Anos?Quem sabe?
A delícia da novidade se alternava com a dor da saudade que eu já sentia.
Em menos de um mês,um caminhão de mudanças estacionou em frente a minha casa e engoliu todos os bens que eu possuía, inclusive um Uno vermelho 85.
Com uma profunda dor no coração e uma expectativa maior do que as montanhas de Minas,no Gol da Bayer, empresa em que Élio trabalhava, vi minha história ficar embaçada por detrás da cortina de lágrimas que insistiam em correr.
Nos seis anos que sucederam essa partida, vivi momentos de apaixonada relação com a capital mineira , a novidade cultural que me encantava, os costumes, o ritmo e sotaque facilmente identificáveis,as comidas, os cheiros, os sons.
Em BH conheci amigos incríveis.Amigos, não! Grandes amores para todo tempo dessa versão de mim no mundo.Amores espetaculares para todas as possíveis versões de mim em qualquer mundo.
Tive a oportunidade de estudar na UFMG, mais especificamente na Faculdade de Letras e me emaranhar  por conhecimentos que antes sequer suspeitava existirem.
Também em BH vivi a experiência de ser mãe novamente, mas esse é assunto para outro post.
Ah! Belo Horizonte será assunto para muitos outros posts.
Por enquanto, voltarei ao princípio quando Mariana teve de enfrentar uma escola grande em uma cidade diferente com pessoas diferentes.Em meio a tantas novidades, a linguagem figurou como uma grande descoberta.Ah! Sempre a linguagem e para as descobertas de Mariana, cujo avô paterno chamava carinhosamente de Marinha, fiz esse poeminha.

Marinha em Beagá

QUANDO A GENTE MUDA DE CIDADE
NUM PAÍS COM TANTA DIVERSIDADE
TEM QUE ESTAR PREPARADO
PARA TODO TIPO DE SITUAÇÃO

ÀS VEZES, É MUITO ENGRAÇADO
NOTAR COMO SE FICA ENROLADO
COM UM SOTAQUE DIFERENTE

E O TAL VOCABULÁRIO?
CRIA CADA  CONFUSÃO !

SARJETA VIRA MEIO-FIO
CALÇADA VIRA PASSEIO

LOUSA É APENAS QUADRO
LANCHEIRA É MERENDEIRA
E SE A PROFESSORA
PEDIR PARA ARREDAR?

FOI ASSIM QUE MARINHA
POBREZINHA !
SE VIU PERDIDINHA DA SILVA
AO CHEGAR EM BEAGÁ
TINHA APENAS CINCO ANOS
VIVIDOS NA FAMOSA SAMPA,
A CAPITAL PAULISTA 

E BEAGÁ PARA QUEM NÃO SABE
É SIGLA DE BELO HORIZONTE 
CAPITAL QUE ENCHE A VISTA

TODA ESSA NOVIDADE
ACABOU VIRANDO DIVERSÃO
PORQUE O BOM NESSA IDADE
É O QUE DIFERENTE
É SÓ DIFERENTE
NEM MELHOR, NEM PIOR

ENTRE O PÃO DE QUEIJO QUENTINHO
E O SOTAQUE MANEIRINHO
APRENDEU A DIZER: 
_ NÓ!!!

APRENDEU TAMBÉM 
QUE TUDO É TREM
E QUE OLHO DE MINEIRO
É O MAIOR QUE TEM
_ NÓ! CAIU UM TREM NO MEU OLHO, SÔ !

APRENDEU QUE 
“CHIQUE DEMAIS” !
 É O MESMO QUE
“ DA HORA!”

QUE “VÉIO” NECESSARIAMENTE
NÃO É QUEM TEM BARBA BRANCA

E QUE VERRRMELHO É CORRR QUE 
ARRANHA A GARRRGANTA

ORA APRENDIA, 
ORA ENSINAVA
NO FIM TUDO ERA 
SOMENTE BRINCADEIRA...

AFINAL, 
ESSA NOSSA LÍNGUA É BEM FACEIRA
E ESPERTA.

TEM SEMPRE ALGO ESPECIAL
ACHO ATÉ QUE TEM UM TOQUE ANGELICAL,

POIS JUNTA GENTE
QUE VEM DE LONGE
DE SUA TERRA NATAL
NUMA CIRANDA GENIAL!


Um comentário:

  1. Obrigada querida! Volte mais vezes, amo minhas visitas.Fica com DEUS, BEIJOCAS MIL.

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