sábado, 2 de julho de 2011

No supermercado

Aproveitei a oportunidade de ser a próxima no caixa.Mesmo não estando com pressa,eu que sou meio acelerada, gosto de ganhar tempo.
Enquanto passava as compras do senhor a minha frente, a  atendente aproveitou a colega de passagem e pediu um copo d'água.Justificou:
- Nossa! Queimei a boca... - passou a língua nos lábios e arrematou o gesto com uma apalpadela antes de completar - ...comendo pastel.
Voltou a passar o produtos pelo leitor ótico. Assim que a colega retornou com o copo de alívio,repetiu:
- Queimei comendo pastel...
- Pastel?
- É,eu sempre como pastel da Maria que fica todas as terças-feiras na Santa Cruz.- falou sem interromper o trabalho.
- Ah! A Maria?Eu já trabalhei para ela, menina!...
A caixa tentou  passar o código de barras de um pacote de linguiça calabresa,mas não conseguiu.O leitor não reconheceu.
- Trabalhei três anos com a Maria do pastel.
- O pastel dela é o melhor!- Esticou a etiqueta e repetiu a ação,ainda assim o registro não ocorreu. - Uma delícia mesmo! 
Virou de um lado,mexeu de outro e nada feito.
- Ela mora perto da minha casa.Todas as sextas-feiras, meu pai pega pastel lá na casa dela . A moça tentou ler o números para digitá-los,mas sem distingui-los, desistiu.
- Você lembra do Juninho,um freguês que pedia sempre o mesmo pastel?Vivia lá na barraquinha com uns amigos?
- Sei!Já fiquei com ele!- Respondeu quase displicentemente. 
- Meu primo!- falou a moça num tom divertido.Tomou mais um gole de água e recorreu então ao mocinho de patins para pesar a linguiça novamente,interrompendo por um segundo o diálogo.
O senhor de óculos a minha frente que até então mantivera-se impassível,acabou deixando um riso escapar.Também eu não pude refrear o riso.Ambos continuávamos ignorados pelas amigas.Assim que voltou a obter a atenção da caixa, remendou:
- Quer dizer, fiquei não.Ele é que vivia insistindo para sair comigo,mas sair mesmo não saí.
- Ele tem um filho.
- Ah,é?
- É...mas já largou a mãe do filho dele.
A operadora já havia terminado de passar as compras e esperava apenas que a linguiça voltasse.As minhas já estavam na esteira e o jeito era mesmo esperar.
A conversa foi interrompida brevemente pela chegada da linguiça desta vez etiquetada.
- Você viu a escala de folgas?
- Vi e detestei!Não achei nada justo.Eu já trabalhei no feriado.
- Eu também,respondeu a colega erguendo a voz.- Vim nos mesmos dias que você!
- Crédito ou débito?
- Débito, respondi, estendendo o cartão do banco.

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