sexta-feira, 9 de maio de 2014

Os animais apareciam em ordem alfabética e não pareciam fazer o menor sentido.A primeira palavra era albatroz. Que diabos de bicho era aquele com esse nome pretensioso para quem estava começando a aprender a ler ? Havia também serelepe. Serelepe era do que minha mãe me chamava, de modo que esse bicho era ainda mais esquisito porque ele era eu!
Assim, as primeiras letras vieram já com uma complexidade simbólica muito inquietante e  se inscreveram no meu recém-criado mundo de palavras tomando posse de um espaço jamais substituído. Lembro-me de ambos e do traçado colorido das letras em fichas caprichosas, mas os vulgares elefantes, leões e gatos sumiram da minha memória.
Sabe a história da areia que vira pérola? Assim mesmo, causando incômodo , inquietação tornaram-se preciosas marcas no meu vocabulário, espécie de cartão de visitas de uma lista enorme que foi crescendo sem timidez.

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