segunda-feira, 20 de setembro de 2010

No SOL DE PRIMAVERA, VOA BICHO

Katia tinha 16 anos, cabelos muito lisos, castanhos e bem longos que balançavam frouxos como aquelas cortinas de tiras de plástico que se usava no batente da porta da cozinha.Além de bailarina, era apaixonada por Beto Guedes.Eu ouvia Beto Guedes no rádio e a canção Sol de Primavera havia sido tema da abertura da novela global das seis Marina(1980), mas tudo o que eu sabia era muito pouco perto do singular domínio de Katia a respeito do Clube da Esquina.Estudávamos juntas na então Escola Estadual de Segundo Grau Alexandre de Gusmão, cursávamos  o magistério e foi essa menina quem me levou ao meu primeiro emprego.
Também a única vez em que puder dormir na casa de uma amiga, foi na casa de Katia.Acho que na época não pude expressar adequadamente minha admiração por essa moça.
Ouvi infinitas vezes uma fita K7 que ela gravou para mim: Amor de índio;Lumiar;O sal da terra;Vevecos, panelas e canelas;Quando te vi;Paisagem da janela...
Depois eu mesma comprei outros discos e ouvia, ouvia, ouvia...
Anos depois, fui parar em Belo Horizonte onde morei por seis anos e em meio a uma manifestação contra qualquer coisa que não me lembro mais (eram tantas!) realizada pelos alunos da UFMG encontrei um certo Marcelo, Celo.
Entre tantas conversas e risadas, Celo Borges que me havia sido apresentado por minha amiga Elaine Duarte, também se tornou meu amigo.Tínhamos muitas afinidades e nos admirávamos mutuamente de modo tranquilo e solto.Na cantina da Letras,na minha casa,nos bares da vida. 
Eu adorava seus relatos familiares, sua experiência musical, sua voz angelical.Meu amigo Celo Borges, neto de seu Salomão e dona Maricota, sobrinho de Lô,sobrinho de Telo Borges.Também com Telo dei boas risadas. 
Procurei entre meus escritos antigos, o poema que fiz para Celo e que lhe entreguei na minha casa certa de que a gente deve declarar as verdades que sente.Eu sentia em Celo a celestial partitura e me sentia feliz de estar de bobeira a seu lado, gordinho sorridente de olhos azuis.Sempre que possível ia ouvi-lo em suas apresentações por aí.Não encontrei o poema, não encontrei as palavras que usei, mas as palavras o encontraram  e seus olhos celestiais sem nuvens que quase choveram.Chegaram mesmo a ficar sujeitos a precipitações no final da tarde.
Ficava tão feliz com os elogios de Bituca...
Depois que parti de BH ainda nos falamos umas duas vezes e depois um silêncio total.Através da internet soube que Celo voou pra não mais voltar ... 

 "Ah, andorinha voou, voou, fez um ninho no meu chapéu

e um buraco bem no meio do céu

e, lá vou eu como um passarinho, sem destino nem sensatez

sem dinheiro nem pro pastel chinês.

Ah, andorinha voou, voou, fez um ninho na minha mão

e um buraco bem no meu coração..."

Não encontrei um vídeo com Celo cantando essa canção que Telo fez ainda menino, mas os tios cantam nesse vídeo e a gente imagina.

 




Mais ...
http://www.museudapessoa.net/clube/exp_hq.htm

leia
http://clubemt.vilabol.uol.com.br/livro.htm

3 comentários:

  1. Adoraria ter o seu dom pra expressar o que senti agora ao ler essa "homenagem". Minha alma dança de alegria por reencontrar minha amiga querida e por enxergar a menina que fui através dos seus olhos.OLhos de poetiza.

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  2. Obrigada, Kátia.Vc já expressou toda a beleza: minha alma dança... para mim, a dança vem antes do verbo.

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  3. Amiga, fiquei sem palavras. Tantas lembranças... tanta vida que ficou e tanta vida que ainda há de vir. "Essa vida é uma viagem, pena eu estar só de passagem".

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