domingo, 3 de outubro de 2010

Minha Olivetti Lettera 32

Eu tive uma Olivetti Lettera 32.Devia estar na 4ª série , quando meu pai trouxe esse presente.Não era um luxo?Sua resposta vai depender,obviamente da sua idade.Se você pertencer a minha geração ou se tiver vindo ao mundo um pouco antes(ou muito antes) saberá compreender o valor de um presente como esse.
Àquela altura da minha vida escolar os trabalhos que eram solicitados se resumiam a pesquisas que eram "resumidas",no meu caso, mal e porcamente de enciclopédias ou livros que as atendentes das bibliotecas que eu frequentava ofereciam.
Faço essa afirmação sem o menor pudor e com a cara mais lavada do mundo, porque hoje tenho segurança em afirmar que não basta alguém dizer :
_ Faça pão de aveia e traga para que eu dê uma nota para ele tal dia.
Tudo bem, você recebe a incumbência e não percebe exatamente porque o pão tem que ser de aveia,não faz ideia do tamanho do pão que valerá maior nota,não suspeita se ele deve vir embrulhado, frio, quente... e nem sempre ousa perguntar, porque já assistiu a algumas iniciativas que resultaram em frustração.Sabe aquela voz estridente e ameaçadora"Como assim não entendeu??"
A pista inicial leva a crer que é necessária uma receita, mas se surpreende ao perceber que há receitas diferentes.E agora?Se sua mãe, tia ou avó conhecem uma ,confia na experiência adquirida por alguma delas.Caso contrário , apenas se arrisca.
Com a receita nas mãos, elabora a lista de ingredientes e se dá conta  das dúvidas que surgem e  nem sempre são esclarecidas na prescrição do texto.Isso é, se resolve parar para pensar.Descobre que há texturas diferentes de aveia, seriam flocos?Farinha?Farelo?
Acabou o açúcar refinado,mas tem do outro.Como se chama mesmo?Vixi!Fermento em tablete tem o mesmo efeito daquele comprado em gramas na padaria...
Na hora do preparo segue a agonia.Se ficar descansando um pouco mais.Como é esse negócio de sovar?Socorro!
Se gritou por socorro é por que você certamente se colocou diante de situações que levaram ao processo de aprendizagem, é um felizardo.
Exageros à parte, os trabalhos que eram pedidos causavam uma agonia mais ou menos assim ao ponto de serem cumpridos mecanicamente depois de certo tempo pela falta de interesse que produziam.
Na biblioteca tínhamos que copiar dos livros o que julgávamos atender ao que havia sido solicitado.Era , na verdade, uma coleta de dados que seria mais ou menos organizada e passada a limpo em folhas de papel almaço.Foi nessa época que um belo calo de escrita começou a nascer ,para nunca mais me largar, no dedo médio da mão direita.Eu e meus amigos recorríamos à Biblioteca Zalina Rolim na Vila Mariana  e por vezes íamos até a Amadeu Amaral no Jardim da Saúde.Nem sempre, ou muito raramente era possível xerocar o material pesquisado.
Assim quando a Olivetti chegou,exultei com o alívio que me traria na hora de finalizar os trabalhos escolares.A verdade é que havia a necessidade de se saber datilografar para apresentar um trabalho limpo.Esqueça o visual limpo e bonito das impressoras atuais.
A energia empregada nas teclas,a qualidade da fita, a habilidade de escrever com o mínimo de erros ,tudo isso eram variáveis para o aspecto final do trabalho.Não havia backspace ...
Quanto a mim , era especialista em catamilhografar e ansiosa desde cedo,teclava errado, usava lápis borracha,radex .Eu não era definitivamente um modelo de aluna no que diz respeito à apresentação visual dos meus trabalhos.Ainda bem que isso também se aprende e quando houve alguém interessado em me  mostrar como, me descobri capaz.
Minha Olivetti,depois que descobri a poesia(veja o post http://blogolgamartins.blogspot.com/2010/07/nasce-uma-paixao.html) e meu irmão começou a trazer uns bloquinhos de papel que ele montava na gráfica em que trabalhava,passou a me ajudar a registrar meus pequenos poemas, versinhos incipientes, sem consistência alguma, mas cheios de alma.Depois eu organizava aqueles escritos em bloquinhos novamente e os transformava em meus livrinhos de poesia.Fazia capas,ilustrava e lia para os amigos e para os frequentadores do bar.
Falei em bar?Ah!Esse é assunto para outro post

2 comentários:

  1. P E R F E I T A essa postagem, parabéins Olga

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  2. Amiga, você num vai acreditar, mas eu e Cleber compramos uma outro dia no Mercado Livre, olha isso. Saudosismo puro!!! Andei escrivinhando umas coisinhas nela, é uma delícia. Datilografar é muito, muito mais gostoso que digitar. E o barulhiho das teclinhas batendo, que gozo!!!
    Beijos...

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