sexta-feira, 6 de abril de 2012

Xingu



Minha mãe tinha uma coleção de fascículos a que eu tinha acesso se fosse cuidadosa.Havia muitas informações e meus olhos de criança não conseguiam abraçá-las.O mundo era muito grande e tinha muitas palavras e ideias que não cabiam em mim. 
As ilustrações ora ajudavam, ora me atordoavam a compreensão do pouco que apreendia,mas ainda sou capaz de sentir o cheiro e a textura do papel com imagens  muito diferentes do que proporcionam os inúmeros pixels dos dias de hoje.
Sempre havia um índio com suas penas e suas armas e ao derredor gravuras menores mostrando detalhes do cotidiano das tribos , de sua forma de vida e habitação. Ainda não se falava em etnias, e elas eram diversas.
Quando a professora pedia um trabalho sobre o dia dos índios eu corria para a coleção da mãe,mas nunca conseguia, de fato, compilar dados.Eu nunca soube organizar tanta diversidade de informação para uma simples homenagem escolar que nunca fez sentido na época.
Certa vez alguém do colégio - e aí eu falo de colegial mesmo - chamou um antropólogo para nos dar uma palestra.Aquele homem revelou a poesia de seu encontro com povos indígenas.Não me lembro de quase nada do que ele falou, exceto sobre os sons da natureza que os homens tentavam recriar com suas "flautas".O impacto de sua palestra foi muito marcante.Tanto que, naquela época , se eu tivesse tido chance, teria embarcado em um desses projetos para a floresta.
Depois que virei gente grande, assisti a uma outra palestra e conheci Daniel Munduruku e o olhar do outro lado da história.Também me foi apresentado o livro A terra dos mil povos de Kaká Werá Jecupe ...
Hoje fui assistir ao filme Xingu:

Saí do cinema com as cordas do coração frouxas.Lembranças do tempo de menina, ideais que um dia habitaram meus desejos... A voz do Orlando Vilas-Boas (de verdade) sendo acordada de dentro de algum espaço da minha memória de criaturinha dos anos setenta... Páscoa, transformação... Será... será?
Em junho farei uma viagem à Amazônia.Não sei absolutamente nada sobre a programação. Relutei muito em acompanhar o marido, que é quem sonha com essa viagem há anos , porém , como nada acontece ao acaso, essa pode ser a oportunidade para reencontrar algumas das raízes da minha identidade brasileira,para reencontrar a paixão idealista que me escapou em algum lugar e quem sabe me reencontrar.

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