Eu gostaria de partilhar com vocês, leitores, os textos de alguns de meus alunos. Trata-se de uma dessas produções de texto corriqueiras que, na escola, se tornam material para treino da escrita e, muitas vezes, para avaliação.
Sempre que vamos escrever, procuro, sobretudo, sensibilizá-los para trazer à tona "o reino das palavras" , onde, sob conselhos de Carlos Drummond de Andrade, devemos penetrar surdamente.
Alguns desses jovenzinhos de 13, 14 anos fazem isso com maestria, sem se perder no labirinto das regras , da coerência e da coesão. Divirtam-se, saboreiem como eu fiz.
Contos de amor, segundo proposta do livro Para Viver Juntos da SM edições.
Maia e Kishan, um amor proibido
Betina Armelin Dal Porto
O jovem só sabia chorar, mas não era
de se esperar algo diferente de um Intocável, vida mais sofrida que a deles não
havia.
Kishan teve de deixar a escola dos
intocáveis aos onze anos para ajudar a pagar as despesas. Ele e o irmão gêmeo
idêntico, Baldev, perderam o pai muito novos e como a situação monetária não
ajudava, a contribuição deles era necessária.
Com o tempo Baldev foi despertando
interesse na fácil vida da casta dos Brâmanes e começou a levar seu irmão em
todas as folgas para observá-los. Kishan sempre se focava em uma esbelta jovem
pouco mais velha que ele.
Certa vez, acabou chegando perto
demais dela, a ponto da moça notar. Ela veio até ele e começaram a conversar e
se interessaram muito um no outro. Assim, sempre que os irmãos visitavam os
Brâmanes, Kishan corria ao encontro da jovem mais deslumbrante que conhecera.
Antes que se dessem conta, os dois estavam apaixonados. Para ambos isso nunca
havia acontecido, começaram a intuitivamente demonstrar uma determinada
felicidade anormal.
Um dia, Maia, a amada de Kishan,
descobriu que ele era Intocável. Preocupou-se inicialmente, sempre ouviu falar
deles como inferiores, mas acabou decidindo que seu amor por Kishan era maior
que isso.
Sabendo que quando os pais de Maia
descobrissem seus encontros com Kishan proibiriam-nos de ficar juntos começaram
a se ver escondidos.
Os sentimentos da garota
intensificaram ainda mais, cantarolava pela mansão e tornava-se cada dia mais
alegre. Os pais, estranhando, começaram a prestar atenção no dia-a-dia de Maia.
Quando Kishan e Baldev chegaram no
casarão, os pais da menina flagraram o amor proibido dos jovens e prenderam
Maia em um porão dizendo que encontrariam alguém para ela e no dia do casamento
ela descobriria quem seria e sairia do porão.
Sabendo que, como de costume, no dia
seguinte, antes do almoço seu amado viria, começou a escrever uma carta
explicando o que acontecera. Mas como esta carta chegaria às mãos da jovem?
Quando uma das trabalhadoras chegou
ao porão com o café da manhã de Maia, após a refeição a garota colocou na
bandeja a carta para Kishan e pediu que a empregada a entregasse ao belo rapaz
moreno de olhos azuis que logo chegaria.
No momento da folga de Baldev e
Kishan, foram, os dois, ver os Brâmanes. Baldev recebeu a carta da
trabalhadora, por engano, que era para Kishan. Logo leu-a, descobriu o amor
secreto do seu irmão e sentiu inveja de Kishan, porque este conquistou uma moça
de tamanha beleza. Contudo, vendo tamanho problema que o casal enfrentava,
resolveu não se meter e entregar a carta ao irmão. Kishan contou sobre seu amor
para Baldev e perguntou se o ajudaria a cavar um túnel do jardim até uma janela
do porão, segundo as informações de Maia na carta. Baldev concordou em ajudar,
porém disse que considerava melhor realizar este feito durante a madrugada,
visto que todos estariam dormindo e seria difícil alguém os flagrar.
Por volta de meia-noite, os gêmeos seguiram
em direção aos imensos casarões dos Brâmanes, chegaram à moradia de Maia e
começaram a cavar o buraco que levaria à janela do porão. O amor de Kishan por
ela era enorme, de tal forma que cavava intensamente para poder vê-la logo, por
isso, a passagem ficou pronta em um tempo inesperadamente curto.
Kishan acordou Maia e os dois
lascaram um beijo intenso e genuíno além de prometerem nunca deixarem um ao
outro. Kishan voltou a ver Maia em todos os momentos possíveis e o amor deles
aparentava mais forte do que nunca. A única coisa que os preocupava era que
alguém os flagrasse novamente.
Certa noite, quando Kishan adormeceu
Baldev vestiu as roupas do irmão gêmeo e foi até a residência de Maia, e
fingindo ser Kishan sugeriu que fugissem da Índia antes que fossem flagrados e
separados novamente. A jovem concordou, logo o traidor, Baldev, fugiu com o
amor de seu irmão e nunca mais obtiveram alguma notícia dele ou de Maia.
Miguel e Raphaela
Raphaela completou 17 anos, mas não era
simplesmente uma adolescente de 17 anos comum, Raphaela era uma princesa, que
se preparava para assumir o trono, pois seu pai, rei Baldoc, adoeceu.
Faltavam onze dias para a coroação
da jovem. Para ela, ser rainha não significava nada, então, o rei decretou que
sua filha só subiria ao trono ao lado de um marido.
A ordem do pai a magoou
profundamente. Raphaela não era como as outras meninas, ela não queria um noivo
escolhido pelo pai por ser rico. Queria se apaixonar.
Todas as tardes a menina saía
escondida para ir à feira, onde passava a maior parte do dia. Mas naquela
tarde, como estava confusa e indecisa, Raphaela foi ao bosque passear. Após
horas andando, a moça se sentou ao pé de uma macieira e com o tempo a bela adormeceu.
Acordou de repente com uma maçã
batendo em sua cabeça. Porém, não caiu naturalmente, foi jogada.
Raphaela olhou para cima, e no topo
da árvore havia um garoto que gritou para ela que já era tarde. Na hora
encheu-se de raiva, mas após encará-lo por alguns instantes, se acalmou, sentiu
algo diferente em seu coração.
Após olhar seus olhos, o rapaz,
Miguel também parou. Nunca viu uma moça tão bonita em toda sua vida. Os dois se
desculparam e a partir dali, puseram-se a conversar sobre tudo.
Como Raphaela, Miguel apareceu no
lugar por acaso. A menina, por mais que
soubesse que ele era um estranho e plebeu, contou que era a princesa, já que de
alguma forma, confiava nele.
Quando voltaram para casa, Raphaela ao
castelo e Miguel ao seu chalé, começaram a se sentir estranhos, como se algo
faltasse, e só pensavam um no outro.
Passaram-se várias semanas e descobriram
que o nome daquilo era amor. Se encontravam todos os dias, e Raphaela, enquanto
estava com ele se sentia a pessoa mais feliz do mundo. Porém ao voltar para
casa, só sabia chorar para o pai que queria se casar com Miguel.
O rei não poderia arcar com a
responsabilidade, porém aceitou, com a condição de que Miguel teria de competir
e ganhar dos outros pretendentes. Assim, Raphaela contou a notícia ao amado,
que se pôs a trinar frequentemente.
Passaram-se dois meses e chegou o
dia da luta. Miguel não imaginou que fosse tão difícil: os cinco oponentes
iriam que competir entre si com flechas para atravessar o campo, e pegar a
caixa de ouro. Quem pegasse a caixinha primeiro, ganharia a mão da princesa e a
posse do reino.
A luta iniciou. Miguel ficou parado, não
sabia usar o arco. Viu os príncipes em sua frente serem atingidos e pôs-se a
correr. Conseguiu ultrapassar três, porém ao empatar com o quarto, já na metade
do campo, Miguel foi atingido.