domingo, 17 de julho de 2011

Melancolia

Esses dias li : "A vida,essa pérola translúcida..." A frase grudou em mim feito poeira em pele úmida.Sensação estranha de algo poeticamente perfeito e conceitualmente discutível.
E não é mesmo assim que a gente se sente às vezes?
A densidade do peito carregado de emoções fecha as cortinas do coração e a luz que passa é tão grossa e leitosa que chega a entupir as veias e provoca um choro sentido.Ainda assim pulsa.Pulsante é dor e porque pulsa é vida.
Saudade de amigo,de animalzinho de estimação,de namorado,de filho distante,de visita boa.
Se eu pudesse interromper o fluxo das coisas que entristecem...Não posso e tenho que admitir minha natureza melancólica.Quando se aproxima o limiar,faço a transposição dos rios;choro ou faço poesia.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Coreanos?

A chegada dos coreanos a Piracicaba tem gerado muitas expectativas e algumas histórias.Conheci poucos até agora.No entanto, há muitos anos convivo com uma família de taiwaneses,cujos olhinhos puxados sempre os levaram a ser chamados de chineses.Até explicar que são de Taiwan...
Os filhos da família Tsai estudaram no Brasil e pelo tempo que estão aqui já podem ser considerados brasileiros.Até o final do ano deve sair a cidadania deles e isso será justo, afinal são contribuintes e gostam desta terra.
Como eu dizia,os membros da família sempre foram chamados de chineses e agora que já desistiram de explicar sua origem, a chegada dos coreanos reacendeu a questão.
Edna , a filha que antecede o caçula, mora em São Paulo, mas vem a Piracicaba todos os finais de semana para ajudar os pais no santuário taoista que dirigem.Esses dias , Edna ficou adoentada e resolveu recorrer ao pronto socorro de seu plano de saúde aqui mesmo na cidade.Pediu que sua irmã Fabiana a acompanhasse.
Durante o atendimento algo muito curioso ocorreu,antes de examinar a moça , o médico fazia algumas perguntas que Edna respondia em bom português,mas o doutor se dirigia à Fabiana pedindo-lhe para traduzir para a paciente.
Levou algum tempo para que ele percebesse que Fabiana não abria a boca e que era Edna que falava com ele diretamente.
A cena gerou algumas risadas.A justificativa: a recorrente situação de coreanos acompanhados de tradutores.
Imagine só como serão os próximos meses.A família Tsai ainda viverá curiosas situações até que os coreanos se comuniquem em português,língua oficial do país em que eles pretendem se tornar prósperos.

sábado, 2 de julho de 2011

No supermercado

Aproveitei a oportunidade de ser a próxima no caixa.Mesmo não estando com pressa,eu que sou meio acelerada, gosto de ganhar tempo.
Enquanto passava as compras do senhor a minha frente, a  atendente aproveitou a colega de passagem e pediu um copo d'água.Justificou:
- Nossa! Queimei a boca... - passou a língua nos lábios e arrematou o gesto com uma apalpadela antes de completar - ...comendo pastel.
Voltou a passar o produtos pelo leitor ótico. Assim que a colega retornou com o copo de alívio,repetiu:
- Queimei comendo pastel...
- Pastel?
- É,eu sempre como pastel da Maria que fica todas as terças-feiras na Santa Cruz.- falou sem interromper o trabalho.
- Ah! A Maria?Eu já trabalhei para ela, menina!...
A caixa tentou  passar o código de barras de um pacote de linguiça calabresa,mas não conseguiu.O leitor não reconheceu.
- Trabalhei três anos com a Maria do pastel.
- O pastel dela é o melhor!- Esticou a etiqueta e repetiu a ação,ainda assim o registro não ocorreu. - Uma delícia mesmo! 
Virou de um lado,mexeu de outro e nada feito.
- Ela mora perto da minha casa.Todas as sextas-feiras, meu pai pega pastel lá na casa dela . A moça tentou ler o números para digitá-los,mas sem distingui-los, desistiu.
- Você lembra do Juninho,um freguês que pedia sempre o mesmo pastel?Vivia lá na barraquinha com uns amigos?
- Sei!Já fiquei com ele!- Respondeu quase displicentemente. 
- Meu primo!- falou a moça num tom divertido.Tomou mais um gole de água e recorreu então ao mocinho de patins para pesar a linguiça novamente,interrompendo por um segundo o diálogo.
O senhor de óculos a minha frente que até então mantivera-se impassível,acabou deixando um riso escapar.Também eu não pude refrear o riso.Ambos continuávamos ignorados pelas amigas.Assim que voltou a obter a atenção da caixa, remendou:
- Quer dizer, fiquei não.Ele é que vivia insistindo para sair comigo,mas sair mesmo não saí.
- Ele tem um filho.
- Ah,é?
- É...mas já largou a mãe do filho dele.
A operadora já havia terminado de passar as compras e esperava apenas que a linguiça voltasse.As minhas já estavam na esteira e o jeito era mesmo esperar.
A conversa foi interrompida brevemente pela chegada da linguiça desta vez etiquetada.
- Você viu a escala de folgas?
- Vi e detestei!Não achei nada justo.Eu já trabalhei no feriado.
- Eu também,respondeu a colega erguendo a voz.- Vim nos mesmos dias que você!
- Crédito ou débito?
- Débito, respondi, estendendo o cartão do banco.