terça-feira, 28 de setembro de 2010

Skyline Pigeon

Por essas e outras é que a vida vai se tecendo...
Já contei que no Olavo Fontoura tive espaço para dar vazão à necessidade de expressão.Oras através do esporte, oras através da música, da encenação.(Nunca menosprezem o papel da escola na vida das pessoas!)
Era uma espiral de possibilidades com extensões e densidades diferentes , mas todas igualmente geradoras de chances...

Quando Cristian chegou ficamos felizes.O número de professoras era costumeiramente muito superior ao número de mestres do sexo masculino.
Ouvir explicações  através de uma voz menos aguda e conviver em sala com alguém não suscetível à TPM nos prometia um refresco.Sem perder o foco da matemática e sem deixar de nos conduzir pelos meandros dessa ciência exata, Cristian arejava nossos dias com seu bom humor e seu talento musical.
Naquela escola, em especial na minha turma,ele encontrou terreno fértil para disseminar entusiamo pela música e fazer brotar de alguns o que estava recôndito e de outros o que já aflorava.
Logo destacavam-se os meninos com suas vozes e violões e seus desejos de expressão.Queríamos cantar, dançar, representar,contar piadas, fazer paródias e até compor.

Durante os inúmeros momentos em que os reuníamos com Cristian, cantávamos pérolas do cancioneiro popular , coisas antigas e bem diferentes do que rolava pela rádio. Uirapuru, Casinha Branca, Serafim e seus filhos.Mas não era só, embarcávamos felizes em canções de Gilberto Gil e tivemos momentos apoteóticos com Lindo Balão Azul de Guilherme Arantes e Mais uma de amor (Geme,geme) da Blitz.Sem contar a bela Roda Viva,a emblemática Por que não dizer que não falei da flores (caminhando e cantando...lembra?),a tonitroante Viola enluarada e outras tantas.
Angélica era uma das meninas mais inteligentes da minha sala, estudávamos juntas desde a 2ª série e Cristian costumava chamá-la de "marquesa dos anjos", epíteto que eu achava divino (com perdão do trocadilho).Quanto ao meu nome, sentia um incômodo imenso.Não gostava do som,não gostava da falta de motivo para essa escolha que acabou sendo aleatória, mas que me livrou de nomes piores (desculpem-me as Otacílias e Ondinas e as demais ocorrências onomásticas femininas iniciadas com a letra O) que não seriam nomes, mas acidentes.
Achava meu nome rotundamente sonoro com um abrir de boca solar.
E todos insistiam em dizer : 
"Que nome forte, você tem! , Olga é um nome muito forte, muito bonito!" 
"Ah, tá!" 
Até ter condições de pesquisar sobre sua origem e ler a livro Olga de Fernando Morais e descobrir ginastas olímpicas russas campeãs...ah, tá!
Cristian, talvez por notar minha carência por um epíteto bacana,(ou talvez eu tenha pedido insistentemente ,o que não seria de surpreender) me batizou : Olga, a musa dos sonhos dourados!
Agora sim eu podia flutuar, musa dos sonhos dourados era ainda mais divinal que marquesa dos anjos, mesmo por que , meu epíteto fora inventado pelo professor Cristian, não era cópia de uma francesa de outros tempos.Angélica era provavelmente minha melhor amiga na escola e agora estávamos em pé de igualdade.Agora sim!
O núcleo do grupinho que orbitava em torno de Cristian , quase sem lhe dar espaço para respirar, se fechava com Luiz Rubens e Luís Américo.Eram meninos cheios de talento que tocavam violão com luxuosa felicidade e aproveitavam para exercitar e ampliar seu repertório com o mestre.
Ensaiamos certa vez , eu e Luiz Rubens, uma representação para Casinha Branca que nunca mais saiu de nossas mentes e corações.Cristian e Luís Américo desfilavam as notas que brot
avam delicadas dos violões, parte da turma entoava em coro as palavras que contavam uma pequena história que eu e Luiz tingíamos no palco com gestos e expressões cheias de emoção e intensidade, com figurino e adereços.
Com a chegada do final do ciclo do 1º grau (hoje se chama Fundamental),sabíamos que nosso rumos seriam diferentes,tínhamos escolhas diversas e íamos para escolas públicas distintas.Travamos um pacto , quem ficasse famoso ou se destacasse no cenário musical, chamaria os outros três para cantarmos "Skyline Pigeon".Nunca me esqueci dessa promessa.



Há dois anos, mais ou menos, por intermédio do Orkut,os meninos me localizaram.Luiz Rubens é empresário em São Paulo , continua apaixonado por Raul Seixas e lidera um moto clube chamado Itanguido´s e Luís Américo (Luís Viola) mora em Munique, na Alemanha onde propaga a cultura brasileira, através do samba.Ele também é compositor.http://www.myspace.com/luisdubem.
Infelizmente nunca mais soube nada a respeito da Marquesa dos Anjos, minha amiga Angélica...

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