As aves tomam conta
Tudo no final de outubro e início de novembro... Entre bruxas e mortos...Minha avó se estivesse viva recordaria as crendices de seu tempo, os agouros, os vaticínios...
Eu, como me sinto integrada no mundo (ainda que morra de medo de galinhas, galos e similares...) até pressinto na presença de alguns animais algum tipo de recado, algo do plano simbólico, mas sem a paranóia que assombra tanta gente por aí...
Pois, noite destas, resolvi lavar uniforme escolar dos filhos. Fui para os fundos da casa e instantes depois ouvi um pio agoniado. Pensei que fosse uma coruja , mas nem dei bola. Era uma coruja. Ela estava pousada no poste da casa ao lado que agora está desabitada e insistia em proclamar sua aflição. Esse poste fica junto ao muro que dá para o meu quintal. No meio da escuridão fiquei observando-a com ternura e ela mesmo notando minha presença nem se perturbou. Tive a impressão de que ela procurava um filhote. Talvez coisa da minha cabeça, mas foi o que senti. Ficamos ali num acordo tácito, aquela ave noturna, ambígua, sombria e eu ambígua , noturna e sombria.
Depois ela se foi e lembrei da minha avó dizendo...'Quando a coruja rasga mortalha é sinal de morte por aí “Eu gostei de vê-la porque simboliza a sabedoria e prefiro a versão grega à popular”. A coruja é símbolo de Palas Atena . Será que sua visita a mim teria ofendido a Zeus, seu pai?
Outro dia, a aventura com aves foi menos confortável.Com o sol quente da comecinho da tarde, uma das cadelas que normalmente estaria estendida preguiçosamente num canto da casa, começou a latir insistente. Fui ao quintal e pousado também no telhado da casa ao lado, havia um urubu, um urubuzão . Tenha dó!!! Senti uma certa náusea. Fiquei observando da janela do quarto o pouco caso do bicho que logo se viu acompanhado de um seu semelhante. Na antiga Grécia há uma versão que narra a vingança de Zeus contra Prometeu que teria roubado o fogo do Olimpo para dá-lo aos humanos, seus protegidos. O fogo é símbolo do conhecimento, assim como no mito de Adão e Eva. Zeus prendeu Prometeu no alto do Monte Cáucaso e diariamente um abutre lhe comia o fígado que voltava a crescer e assim ininterruptamente Prometeu agonizava diante da ameaça alada.
Enfim concluí que o calor era muito forte e o azar seria do bicho, preferi deixá-lo pra lá e voltar pra minha vida cotidiana que retorna a cada dia como o fígado de Prometeu.
Transcrevendo palavra da Tania:
ResponderExcluirMuito profunda também a reflexão sobre o pássaro que quer voar e que encontra sua saída a partir do escuro... também acredito nisso... A luz brilha forte no escuro!!! Basta permitirmos que esse escuro aconteça, não é mesmo?
Muito legal seu blog!!!!