sábado, 13 de novembro de 2010

Escorpião


Parte 1

                                                                   

O medo é algo estranho mesmo.Mecanismo de defesa nos deixa alerta com relação a possíveis ameaças.Eu tenho medos,medinhos e medões.Muitos deles existem porque representaram ameaça para os outros. Certamente tenho medo de possibilidades que já representaram para alguém algum incômodo, alguma dor, alguma tristeza.
          Durante muitos anos nutri verdadeiro pavor de escorpiões, principalmente em virtude do que me chegava aos ouvidos. O senso comum é mestre em lançar um rol de histórias, algumas insólitas, em torno da ação desses artrópodes curiosos.
          Enquanto morei em São Paulo, jamais presenciei qualquer acidente com escorpiões. Nem com vizinhos, nem com parentes ou amigos da escola.Tudo o que eu sabia vinha dos livros, da imaginação fértil de uns contadores de casos, dos pesadelos vendidos pelos filmes.Bastava para alimentar o mito que tomava força na minha cabecinha assustada.
       Quando eu soube que havia aparecido mais de um desses seres num apartamento do prédio em que eu morava em Belo Horizonte o medo tomou proporções alarmantes. Dentro da casa das pessoas? Que horror! Um Tityus serrulatus! Jesus, Maria e José!!!!
          Fiquei em estado de alerta, coloquei tela no que foi possível, ralos especiais. Tive pavor de imaginar um daqueles pequenos monstros causando dor em mim, à minha filha ou ao meu marido.Já pensou se picasse meu menino pequeno que não sabia nem falar?
            Descobri que os escorpiões eram muito mais comuns do que eu julgava e apareciam nas casas das pessoas. Essa informação ficou ainda mais próxima de mim nos últimos anos.Na casa em que moro apareceram alguns desses bichinhos peçonhentos e eu voltei a ficar alerta, amedrontada.A possibilidade de manter algumas galinhas, predadores naturais dos escorpiões, não passou e nem passa por minha cabeça.Simplesmente não dá.
     Embora esse medo tenha sido tatuado na minha mente, algo muito curioso me ocorreu.Dentro de uma sala de aula em Tietê, enquanto eu escrevia no quadro e explicava para meus alunos sobre a ocupação do poema no espaço do papel , senti uma fisgada no dedinho do pé direito.Uma agulhada.Ergui o pé num ato reflexo e ao olhar para o chão um lépido  Tityus bahiensis foi procurar esconderijo debaixo do pé de um carteira de aluno.Eu me sentei e pedi para que um aluno avisasse na secretaria que eu havia sido ferroada por um escorpião e que viesse alguém à sala.O que se seguiu foi o que vocês já imaginam.Houve alvoroço, é claro, porém o mais interessante foi que eu me mantive calma segurando o pé e aguardando que alguém me levasse a um hospital.As pessoas em volta se agitaram tanto, alguns adultos beirando a histeria e eu ali, a medrosa, começando a sentir os efeitos do veneno.Muita dor local.E o escorpião, creio que  muito mais apavorado do que eu , acabou sendo morto.
            Obviamente fui socorrida e cercada de atenção.Continuo sentindo medo do bicho, mas a razão superou o pânico.Achei melhor que eu tivesse sido a vítima e não qualquer aluno.Melhor que não tivesse sido ninguém, mas foi um acidente e embora a experiência não tenha sido agradável, rendeu mais uma história.

Parte 2

De novo não!

         Depois do episódio em Tietê que rendeu até produção de reportagem em sala de aula(por esse ponto de vista foi ótimo o incidente!),passei a ficar mais arisca,mas aquele Medão atormentado por fantasias foi se transformando em mera cautela.Não é nada agradável encontrar seres dessa espécie dentro de casa e menos agradável ainda é a dor de um encontro desastrado.
        Há dois anos mudei para a casa imediatamente à direita daquela onde vivi por 8 anos e por aqui já apareceram alguns bem pequeninos.Por mais que se dê atenção aos cuidados com limpeza e eliminação de tralhas(missão árdua essa), eles são insistentes.E eu pergunto: Por que comigo??Ah! Tá bom! Por que não comigo?
     Hoje eu sentei-me aqui, exatamente onde estou em uma mesa próxima à porta de entrada.Senti o contato de algo leve no pé direito.Uma pena,um fiapo deslizando,pelos do meu gato?Não,as patinhas sutis de uma criaturinha com menos de 3 centímetros.Ao sentir a "coceirinha", ergui o pé e o pequeno escorpião escorregou e caiu no chão.Acho que levou um segundo para eu me dar conta de que se tratava de um escorpião.Minúsculo,mas potencialmente venenoso.Nem pensei, taquei-lhe uma chinelada e acabei com sua vidinha infame.Dá para acreditar?
Ainda estou aqui cheia de cisma,mas ainda não penso em galinhas.  

foto do cadáver

5 comentários:

  1. Olga, você foi corajosa!!!! Eu teria simplesmente entrado em pânico!!!!!!!
    Também tenho pavor desse BICHOS!!!
    Beijos
    Paulinha

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  2. Ai amiga, eu também já passei por isso. Naquela casa em morava com meus pais em Itajubá, por ser um lugar afastado e rodeado de mato, vivia aparecendo todo tipo de bicho, inclusive muito escorpião e aranhas enormes. Minha tia também foi picada por um escorpião e disse que dói muito!! O que resolveu o problema foi uma super dedetização.

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  3. Adorei o texto. Sou sua fã e você tem muito talento!
    Thaís Danelon

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  4. Cheguei até aqui por causa de um escorpião que encontrei hoje no escritório. Ao menos de dois em dois meses uso kaotrine na casa toda, a grama é aparada uma vez por mês não tem entulho no quintal e esses bichos sempre querendo me fazer uma visita. Amanhã será dia de loucura, tirar os quadros, arredar os móveis, dedetizar a casa, a calçada e sempre que lembrar, levantar as pernas, loucura... loucura.
    Parabéns pelo blog, virei mais vezes, não pelo mesmo motivo.
    Patrícia, Natal/RN

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  5. Olá,Patrícia!
    Seja bem-vinda!Será um prazer partilhar esse espaço.É curioso como se pode ficar paranoico por causa desse bicho.Agora que voltou o calor,já comecei a arregalar os olhos.Coloquei veneno nos ralos por conta das baratas,quitutes muito apreciado por nossos amiguinhos.Tudo com muito cuidado porque tenho em casa três cães e um gato.Só não dá pra ter galinhas!!! Sorte por aí!

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