terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Cadê as chaves?

Depois de ler e ouvir meus relatos pessoais de circunstâncias nada corriqueiras , um amigo me disse que eu parecia uma personagem de sitcom.E quem há de discordar?




_Essa situação é um absurdo!
_Eu sei, 
_É inaceitável.-Continuava reclamando.
_Concordo,mas pelo menos terei uma história para contar.
Assalariado sempre aguarda o dia do pagamento para quitar a maioria de suas contas.Nesses tempos de internet essa tarefa é facilitada.Os boletos podem ser pagos em casa e as transferências de uma para outra conta também.No entanto,em alguns casos, ainda é necessário que se efetuem pagamentos in loco.
Mari já havia chegado do trabalho e o pai avisou:
_Temos que ir ao Carrefour.
O dia havia sido quente,extremamente quente e pegajoso.Os gestos pareciam grudar-se no ar e as ações se arrastavam preguiçosamente.Caio havia tido uma tarde ainda mais quente,esteve febril,mas àquela hora , depois de um banho fresco e de um analgésico sentia-se melhor, mas ainda cansado.Preferiu ficar em casa,descansando.
Élio deixou a chave no lado de fora da porta,Mariana, a última a sair trancou e entramos no meu carro.Assim que o motor foi acionado recomendei que fôssemos no outro carro.
_O barulho aí na frente ficou pior,melhor irmos no seu.O jeito é levar até uma oficina amanhã.
Trocamos de carro e eu voltei para dentro de casa para guardar a chave da "space".Mari colocou a cachorra para dentro, o gato quis sair e Élio nos apressou.No alvoroço pedi ao Caio que trancasse a porta.Em segundos partimos rumo ao supermercado para pagar a fatura e,quem sabe, encontrar alguma oferta tentadora.No caminho apelamos para um impecável suco de melancia.
Aproveitamos o clima consumista e demos uma passadinha no shopping.Nessa época que antecede o Natal,nem é necessário dizer o quanto estava cheio.Resumo da ópera: saímos bem tarde e bem tarde chegamos em casa.Sacolas na mão em frente à porta fechada:
_Cadê a chave???
Mariana havia deixado dentro da "space" trancada cuja chave estava dentro da casa...trancada!
Eu não havia pegado a minha nem Élio a dele e Caio dormia profundamente depois da tarde febril.Os cães latiram, a campainha do interfone soou repetidamente, bem como o telefone e nada.Nenhum sinal de que ele acordaria.Vasculhei minha bolsa, vasculhamos o carro e nada.O que fazer?
Élio subiu no telhado na tentativa de chegar perto da janela do quarto do Caio para fazê-lo acordar.Não funcionou,sem contar o risco.
_Isso é um perigo e se algum vizinho achar que eu sou um ladrão?
Depois dessa tentativa frustrada, o máximo que conseguiu foi se enrolar no fio do telefone.Resolveu tentar abrir a porta lateral.Mais difícil ainda.Os cães latiam e nada.Tentei ligar mais uma vez para casa.O telefone já não soava,o fio havia se rompido mesmo.Agora só nos restava procurar um chaveiro 24 horas.
Mariana pediu ajuda a um amigo pelo celular.Ele estava na internet e localizou vários telefones.Ligamos um a um e nada!Ninguém atendia!A única vez em que atenderam o alívio foi momentâneo,era um especialista em carros,não atendia a emergências domésticas.Como assim?
Resolvemos dar uma volta pelo bairro,depois pelo centro da cidade e não conseguimos encontrar nenhuma referência  que já não houvéssemos tentado por telefone.Desistimos.
Élio continuava indignado com a situação,Mariana só tinha fome e sono.Eu só tinha uma preocupação,Caio não acordar a tempo para a última prova.
_O jeito é matar o tempo e depois dormir no carro mesmo, ora.
Cachorro-quente no Daniel e uma noite mal dormida.
Élio tinha uma bolsa de viagem dentro carro com toalha e tudo , estendeu no gramado,usou sua bolsa de futebol como travesseiro e gastou alguns minutos ainda tentando falar com um chaveiro, na esperança de que alguém atendesse.Mas já eram duas da manhã e isso aqui não é São Paulo.Logo ele acabou caindo no sono e sono profundo posso dizer.A terra deve ter sugado o resto de sua energia a boa e a ruim.Ele dormiu totalmente entregue.
Antes que eu me ajeitasse, Mari já dormia encolhida no banco de trás.Sua posição se assemelhava a do gato sobre a caixa de papelão no canto da garagem.O segurança passou apitando.
Abaixei o vidro e o banco do motorista para que o ar circulasse.Apesar do calor assombroso do dia, a noite embora quente, trazia consigo uma brisa feliz.O cansaço me abateu e dormi,mas não por muito tempo.A vizinha adolescente chegou com uns amigos no meio da madrugada e eles ficaram na calçada conversando, rindo,brincando.Brincadeira! Lá se foi meu sono.Meus companheiros sem-cama estavam na mesma posição desde que haviam caído no sono.ouvi novamente o segurança em sua ronda.
Virei de um lado, virei de outro com um cansaço enorme ,com olhos cerrados, mas sem conseguir me desligar.Olhei no relógio enquanto o som da vozes iam ficando cada vez mais distantes e algum tempo depois, dormi.
Dormi por vinte minutos,até que o gato me chamou na janela querendo entrar no carro.Colocou uma patinha no meu ombro.Facilitei sua entrada e ele se ajeitou lá no fundo,no tampão traseiro.Mexeu no cinto de segurança,se lambeu e aquietou.os outros dois, estáticos nem notaram nada.
O segurança passou apitando em sua ronda sistemática e eu repeti o ritual.Vira para cá, ajeita para lá.Perna esticada, braço encolhido.O sono se aproximando novamente ,suavemente,sorrateiramente..
O gato resolveu sair do carro,ajudei ainda no meio do sono,sem perder o fio.
Uma mariposa preta,imensa pousou na parede perto da renda portuguesa,o gato percebeu e tentou pegá-la.O fio do sono se rompeu.A mariposa voou,o gato saltou sobre o meu carro, atrás dela.Desistiu, resolveu entrar no carro novamente.Praguejei.Ele saltou para o assoalho diante do banco do passageiro,tentou apanhar algo no porta copos,no porta-trecos da porta.Abri a bolsa, apanhei o celular.Eram cindo e onze.
_Eu quero dormir ,Mozzani.Dei uma bolsada no traseiro dele.Achando que eu brincava saltou para fora acelerado.
O mundo calado, menos meu gato.Mari suspirou, gemeu e ajeitou o corpo.Élio imóvel de bruços sobre a toalha na grama.
Dormi.Acordei com o o dia amanhecendo e a passarinhada fazendo a maior algazarra nas árvores e nos fios da rua.Alto, muito alto!Eram seis horas.
Melhor despertar de vez e tentar acordar o Caio.Élio apertou o interfone por duas vezes e o adolescente sonolento e já sem febre, sem saber nada sobre a história abriu a porta e ouviu:
_Graças a Deus!!!

2 comentários:

  1. Olga!!!!!!!!!!
    Estou em cólicas de tanto rir!!!
    Lógico que deve ter sido super desagradável, mais não tem como não rir!!!!kkkkkk
    Beijos

    Paulinha

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  2. Paulinha,
    Vc nem imagina quantas situações hilárias eu já vivi.Meu amigo tinha mesmo razão.Aprendi que o melhor é rir mesmo.Sabe aquela história,o que não tem remédio...

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